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No último texto deste blogue, dedicado às eleições legislativas, colocou-se a questão da mudança estrutural do quadro parlamentar, com o reforço significativo das franjas partidárias e uma diminuição da influência dos clássicos partidos do centro, o que, a verificar-se, constituiria uma novidade importante na história recente da democracia portuguesa, e cuja dimensão alteraria o comportamento do próximo governo, caso o eleitorado rejeitasse uma maioria absoluta de um só partido.
A previsão concretizou-se. O Partido Socialista perdeu a maioria absoluta, o que representa uma derrota, embora tenha travado a hecatombe, o que poderá ser considerado como uma meia vitória, não tendo por isso motivos para muitas euforias. Os votos do descontentamento deslocaram-se, por inteiro, para o Bloco de Esquerda, que passa, a partir de agora, a ter mais responsabilidades políticas.
A franja da direita também se reforçou, embora aí a deslocação de votos para o CDS constitua a expressão do descontentamento em relação ao PSD e, em particular, em relação à frágil liderança de Manuela Ferreira Leite.
Se, no passado, as eleições eram marcadas pelas oscilações de um eleitorado flutuante, que se repartia, alternadamente, pelos dois partidos do centro, agora, essa deslocação de votos operou-se para os pequenos partidos das franjas, o que vai introduzir mudanças importantes no processo político, entre elas a criação de maiores consensos entre o partido do governo e a oposição.
A CDU, que continua a fixar com segurança o seu eleitorado tradicional, conseguiu subir em número de votos e de deputados, o que garante uma maior solidez à esquerda parlamentar.
No cômputo geral, é de saudar a vitória da esquerda, no seu conjunto, e a perda da maioria absoluta do PS, partido este que tem de corrigir o comportamento autoritário e arrogante de José Sócrates e de rever as políticas desastradas de direita que aplicou na actual legislatura.
Uma nota final, apenas para salientar que a vitória inequívoca do BE e do CDS, nestas eleições, começou a ser laboriosamente trabalhada no hemiciclo da Assembleia da República, onde os seus respectivos líderes se destacaram num persistente e incisivo combate, e sem tréguas, à verborreia de José Sócrates, o que lhes deu uma enorme visibilidade junto do eleitorado.
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