frio
Oh não te vou mentir! O ar frio
trespassava-me os dedos rasgados,
Oh não te vou mentir! O ar frio
trespassava-me os dedos rasgados,
orifícios na carne que não sentia.
A janela aberta e eu descalço,
a olhar o vazio, o precipício na janela
dos outros. Este lugar não me pertence
tampouco o buraco que me separa
da fronte do resto.
Oh! Como sinto falta dos nossos
recados escritos. Tínhamos dificuldade
em comunicar, lembras-te?
Uma herança que recebeste, dizem-me,
não sei bem. Sinto a falta desse frio
longínquo tempo, o teu olhar terno
mas distante, como o limite onde
esbarrávamos sem querer.
Oh! Como sinto falta dos nossos
recados escritos. Tínhamos dificuldade
em comunicar, lembras-te?
Uma herança que recebeste, dizem-me,
não sei bem. Sinto a falta desse frio
longínquo tempo, o teu olhar terno
mas distante, como o limite onde
esbarrávamos sem querer.
A nossa casa tinha um quintal
com flores e uma rara combinação
para amar. Em que nos transformamos?
Quem é este nós afinal? Consigo odiar-te
enquanto te amo, consigo embalar
o desengano de um sono que tarda,
segurar as mãos contra o rosto,
verter-me dentro do vazio em que fomos.
Não te vou mentir,
com flores e uma rara combinação
para amar. Em que nos transformamos?
Quem é este nós afinal? Consigo odiar-te
enquanto te amo, consigo embalar
o desengano de um sono que tarda,
segurar as mãos contra o rosto,
verter-me dentro do vazio em que fomos.
Não te vou mentir,
quero sair do poema agora,
não sou mais eu quem te fala,
sou a voz crua da distância
que nos desprendeu.
Sou um beijo de morte
que me afaga manhã cedo,
o rosto mais triste e frio
da tua insónia.
Miguel Pires Cabral
Miguel Pires Cabral
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