Quando, em finais de 2008, o banco americano Lehman Brothers encerrou as portas com um enorme estrondo, iniciando um processo de sucessivas falências de outros bancos americanos e fazendo cair a pique os títulos das bolsas em todo o mundo, os dirigentes políticos e os economistas ligados ao sistema apressaram-se a dizer que a crise era exclusivamente financeira e que tinha por causa o super-endividamento das famílias e o excesso de oferta dos bens habitacionais. Fingiram ignorar que por detrás desta evidência havia uma outra obscura realidade, que procuraram esconder. Não era vantajoso para a credibilidade do sistema capitalista neo-liberal, assumir erros e fracassos. Por outro lado, esta explicação falaciosa permitiu ao governo americano assumir, sem a contestação da opinião pública, que não estava minimamente informada sobre a situação, a plena justificação para, do erário público, retirar milhões e milhões de dólares para injectar no sistema financeiro, que tinha ficado sem liquidez, devido à queda dos activos usados na especulação financeira. Com esta decisão, premiaram-se os culpados da crise, absolveram-se os dirigentes políticos e penalizou-se o contribuinte.
Na análise então efectuada, ocultou-se a verdadeira causa da crise, que era essencialmente económica, já que, durante o último quarto do século passado, operou-se uma enorme mudança na economia mundial com a transferência do investimento produtivo, ligado à indústria para a Ásia. E esta crise, os Estados Unidos não a resolveram. Já há quem fale que se avizinha mais uma forte crise, maior do que a que rebentou em 2008 e 2009.
Por sua vez, a a União Europeia - que não tinha sido muito afectada pela crise dos bancos americanos, mas cuja economia apresentava os mesmos dilemas da americana, em relação ao sector industrial, não percebeu a heterogeneidade das diferentes economias dos países que a compõem, e que apresentam diferentes graus de desenvolvimento - não fez o trabalho de casa, e deixou-se apanhar na armadilha do euro e da dívida soberana dos países do sul. Os rigorosos planos de austeridade, que estão a ser aplicados nos países com mais problemas orçamentais e com maiores derrapagens da dívida soberana, vão provocar a agudização de uma crise económica, marcadamente recessiva, com graves repercussões ao nível do desemprego e das desigualdades sociais. A perspectiva aponta para o definhamento da Europa.
Em Portugal, além de se debater com os mesmos problemas da Europa, com uma quebra muito acentuada da produção industrial, devido às falências e às deslocalizações, tem o grande problema da sua fraca competitividade, da existência de um Estado gordo e preguiçoso e da baixa qualificação dos trabalhadores portugueses. Com a aplicação do chamado PEC 3, que ficará consagrado no Orçamento de Estado de 2011, Portugal não vai conseguir sair tão cedo de uma crise recessiva, que irá afectar o índice do seu desenvolvimento em relação aos seus parceiros e aos seus concorrentes e transferir dos custos da crise para as gerações futuras.
Quando se chegar a 2013, todos irão andar de candeia na mão à procura da economia.
Poderemos dizer, recorrendo à astrologia, que se aproxima uma conjugação desfavorável dos astros, que irá desencadear uma gigantesca crise internacional, em cadeia. Portugal será um dos países em que essa crise terá maior impacto.
2 comentários:
Veja uma reflexão também interessante sobre estas questões aqui:
http://politeiablogspotcom.blogspot.com/2010/10/vitor-bento-o-no-cego-da-economia.html
Correia Pinto é aquele jurista que chegamos a ver intervir com grande qualidade nas assembleias da Lei das Rendas, mas que infelizmente aquela Comissão nem soube reconhecer.
Obrigado João Grazina. Irei ler com todo o interesse o texto que me aconselha. Só ainda não o fiz, devido aos meus afazeres pessoais, que não me têm disponibilizado tempo.
Dar-lhe-ei notícia do resultado dessa leitura.
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