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Sócrates e Morais, Morais e Sócrates. Destinos de dois homens, que se cruzam constantemente, para, mais uma vez, confirmar o adágio: Diz-me com quem andas, e eu dir-te-ei quem és. Agora voltam a cruzar-se, no palco folclórico da justiça, que anda e não anda, às vezes faz que anda, mas não anda. Morais já foi constituído arguido, juntamente com a sua ex-mulher. Sócrates, só agora foi ouvido, por escrito, pelo tribunal, que lhe formulou sete perguntas, às quais respondeu, para dizer que só conheceu o Morais na Universidade Independente, numa relação formal de aluno e professor. Morais, um génio desperdiçado, professor de quatro cadeiras, quatro, na dita universidade, e que ainda tinha tempo de administrar empresas e fazer campanha eleitoral na Covilhã, pelo PS, mas marchando nas manifestações de costas voltadas para Sócrates, daí eles não se conhecerem desses tempos. Por isso, Sócrates também não poderia informar o tribunal que conhecia a ASM, a empresa de Morais e da ex-mulher, que, através de uma consulta fictícia, ficou a assessorar a Associação de Municípios da Cova da Beira (AMCB) na adjudicação do concurso para a construção da Estação de Tratamento de Resíduos Sólidos (ETRS).
Esta inquirição ao primeiro ministro tem por base as várias denúncias recebidas pela PJ e também o conjunto de testemunhos, recolhidos em 1997 por aquela polícia, onde unanimamente se aponta o facto do então secretário de Estado do Ambiente do governo de António Guterres ter eventualmente favorecido empresa a quem foi adjudicada a construção da ETRS, da qual teria recebido 750 mil euros. Também já se sabe que a PJ teria pretendido efectuar, em 2003, uma busca à residência de José Sócrates, diligência esta que, estranhamente, o Ministério Público recusou, julga-se que por boas e fundamentadas razões.
Este é mais um caso em que o actual primeiro ministro aparece envolvido num processo de suspeição, embora o tribunal o tivesse inquirido na qualidade de testemunha. Pelo menos, para já. Mas, pelo andar da carruagem, já se percebeu que este comboio nunca mais chegará à estação de destino, como no paradoxo de Zenão.
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