Continuamente, o país vai tomando consciência da dimensão alarmante do fenómeno da corrupção, ao nível do aparelho de Estado e das autarquias. O laxismo dos dirigente políticos, alguns deles coniventes no processo da promíscua mediação dos interesses privados, em conflito com os interesses do sector público, que deveriam ser defendidos intransigentemente, a promoção avulsa de leis, carregadas intencionalmente de ambiguidades interpretativas para facilitar decisões arbitrárias, ao sabor das conveniências de quem paga o favor momentâneo, e a asfixia de uma cultura cívica de cidadania, promovida epidemicamente pela corrida ao consumismo desenfreado, ao gosto do figurino do novo-riquismo pacóvio, facilitaram, à sombra da impunidade, o alastramento da corrupção.
As estruturas intermédias das câmaras municipais, principalmente as mais directamente ligadas ao licenciamento das obras, são as mais vulneráveis ao tráfego das influências, que o dinheiro compra. O exemplo do que se passa na câmara de Lisboa, e que a jornalista Ana Henriques retrata na sua reportagem do PÚBLICO de hoje, representa uma pequena amostra da negra realidade que ensombra, como num pesadelo kafkiano, a maioria das autaquias do país.
Sem comentários:
Enviar um comentário