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domingo, 11 de outubro de 2009

Notas do meu rodapé: Uma democracia anémica...

É assim que os partidos da área do poder querem ver os eleitores

As eleições autárquicas, mais do que qualquer outra do actual sistema político, são as que melhor avaliam a maturidade cívica do povo português, quer pela implicação do efeito de proximidade, entre o eleitor e o eleito, quer pelas repercussões da importância crescente da gestão autárquica na melhoria das condições de vida das populações.
Mas, apesar da visibilidade dos efeitos positivos que o poder autárquico proporcionou no país, o que permite considerar a sua institucionalização como uma das mais importantes conquistas da revolução de Abril, não se verifica um grande empenhamento das populações no seu acompanhamento e controlo. As elevadas taxas de abstenção assim o demonstram, assim como o completo alheamento dos cidadãos em relação aos assuntos dos governos autárquicos, alguns dos quais passam por uma discussão e votação nas assembleias minicipais, normalmente pouco concorridas.
Podem ser avançadas as mais variadas razões para justificar este crónico alheamento, algumas bem injustas para com os cidadãos, a quem se aponta a falta de informação e conhecimentos para poder compreender os assuntos mais complexos do governo da autarquia. Embora verdadeira, esta asserção, ela não passa, contudo, de uma falácia, em que deliberadamente se confunde a causa com o seu efeito, e que procura esconder a fractura entre os partidos políticos e os eleitores e entre os órgãos do poder e os munícipes/cidadãos. A falta de militância dos dois maiores partidos, PS e o PSD, que apenas se lembram dos eleitores, e da pior maneira, em períodos eleitorais, conduziu à anemia da democracia portuguesa. As campanhas eleitorais perderam a dignidade do discurso político, sério e coerente, para se transformarem num arraial de feira e de romaria. O oportunismo político de prometer tudo e mais alguma coisa, sabendo antecipadamente que nada vai ser cumprido, ou o recurso manhoso de apresentar obra pública vistosa, para encher o olho do eleitor, degradaram a essência do processo democrático.
Os partidos da área do poder, em vez de activarem a contínua e esclarecida militância dos seus membros, e constituindo através deles uma verdadeira plataforma de diálogo e discussão com os cidadãos, para os esclarecer e mobilizar, optaram, pelo contrário, por organizar-se à volta das clientelas organizadas, promovendo promíscuas alianças, que lhes obscureceram o património ideológico em troca da obtenção de um clandestino património de interesses, alguns bem imorais e ilícitos.

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