A atribuição do Prémio Nobel da Paz ao actual presidente dos Estados Unidos, Barak Obama, está, naturalmente, a levantar uma grande polémica, com muitas personalidades a denunciarem a falta de consistência da justificação apresentada pelo respectivo comité.
Na realidade, a argumentação sustentou-se num perfil curricular, onde apenas existem, vagamente, formulações teóricas de projectos sedutores e manifestações reiteradas de boas e saudáveis intenções, faltando ainda analisar, num futuro próximo, os respectivos resultados finais.
É certo que a metodologia utilizada pelo comité norueguês do Nobel da Paz, assim como a escolha dos seus critérios, enquadram parcialmente esta situação, já que o seu fundador, Alfred Nobel, e apenas para este prémio, pretendeu valorizar e estimular as nobres intenções dos esforços em prol da Paz, dispensando da análise, caso ainda não tivessem ocorrido, os eventuais resultados. E só assim foi possível distinguir personalidades e instituições que lutaram denodadamente por um mundo mais pacífico e solidário, sem que tivessem tido a felicidade de conseguir esse desiderato. O Nobel da Paz é, pois, um prémio com características próprias, já que, em função da disposição testementária do seu fundador, "ele poderá ser atribuído a pessoas ou organizações que estejam envolvidas num processo de resolução de problemas, em vez de apenas distinguir aqueles que já atingiram os seus objectivos em alguma área específica".
Mas se a distinção atribuída a Obama não pode ser criticada, através desta perspectiva, o mesmo não se poderá dizer em relação à consistência da valorização dos processos a favor da paz, em que ele se envolveu. Pelo contrário, algumas das suas acções diplomáticas caracterizam-se por alguma ambiguidade, como aconteceu na aproximação tentada em relação à Rússia, e até na condenável duplicidade, como aconteceu em relação ao golpe de Estado nas Honduras.
Independentemente da auréola de simpatia que envolve Obama, é sabido que um presidente dos Estados Unidos nunca pode contrariar os interesses dominantes das oligarquias económico-financeiras, e estes interesses não se enquadram no perfil que Alfred Nobel desenhou e instituiu para os candidatos ao Prémio Nobel da Paz, embora num passado recente, em 1978, o comité tivesse escandalizado o mundo ao distinguir o sinistro antigo primeiro ministro de Israel, Menachen Begin,um perigoso terrorista do grupo judeu Irgun, responsável pelo atentado à bomba do Hotel King David, em Jesuralém, na altura a central administrativa e militar dos britânicos, durante o Mandato Britânico da Palestina, um atentado que fez 91 mortos.
Também Henry Kissinger, o secretário de Estado de Nixon e de Ford, provocou amargos de boca ao comité Nobel da Paz, ao desmentir posteriormente os atributos pacifistas que lhe atribuiram, em 1973, pelo seu contributo na negociação do Tratado de Paz no Vietnam, por ter protagonizado, pouco tempo depois, o apoio ao golpe sanguinário de Pinochet, no Chile, e à invasão de Timor pela ditadura de Suharto, da Indonésia, acções estas que, à luz do Direito Internacional, o deveriam remeter para a condição de um criminoso de guerra.
Obama passa a ser o quarto presidente dos Estados Unidos a receber o Prémio Nobel da Paz, o que é revelador de uma certa parcialidade em relação aos dirigentes políticos da maior potência do mundo. Antes dele, foram distinguidos Jimmy Carter, em 2002, Thomaz Woodrow Wilson, em 1919, e Theodore Rooselvet, em 1906.
1 comentário:
Quem governa nos USA que abUSA de tudo e de todos,quer com Presidente do Partido Democrata quer com Presidente do Partido Rèpublicano,
é o Poder Financeiro.E a propósito, pergunto:-O Partido Rèpublicano,não é democrata ?!E o Partido Democrata,não é rèpublicano?!
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