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quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Notas do meu rodapé: Stop the Clash of Civilizations



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A teoria do "Choque de Civilizações" é um redutor eufemismo doutrinário, que esconde a verdadeira natureza das guerras e os fundamentos que as promovem e justificam. Faz parte da estratégia da diabolização do inimigo, destinada a mobilizar vontades e a quebrar resistências.
Desde os primórdios do neolítico, quando surgiram as embrionárias formas de Estado para organizar as novas sociedades sedentarizadas, as religiões constituiram-se no seu fermento agregador e unificador. Em nome da ignorância, questionavam-se as divindades, que respondiam sempre em consonância com os desejos e os interesses do poder político dominante.
As próprias Cruzadas à Terra Santa, declaradas pelos papas em nome de Deus, não eram mais do que um recurso ideológico para justificar a necessidade de desencadear uma guerra contra os árabes. O objectivo seria o de abrir o caminho de acesso aos produtos do Oriente, numa tentativa desesperada de quebrar o isolamento e as debilidades económicas dos estados cristãos, a braços com cíclicas crises alimentares, retirando aos árabes, cada vez mais fortes económica e militarmente, o monopólio do comércio daqueles produtos, além de procurar, com esta manobra de derivação estratégica, fragilizá-los na Península Ibérica, onde já estavam em franca regressão.
Entre estes dois mundos, estabeleceu-se sempre um estado de guerra permanente, que o colonialismo inglês conseguiu vencer. Os países ocidentais tinham consolidado o seu domínio , que exerceram sem visível contestação, durante o século passado, dividindo entre si os poderes, as tarefas e os proveitos.
Ficaram as humilhações, que os nacionalismos árabes não souberam redimir e ultrapassar, mas que os tarefeiros de Maomé aproveitaram habilmente, fomentando o nascimento de estados teocráticos e apadrinhando a formação de movimentos terroristas, na base da Jiahd. Também aqui, a religião é o pretexto de ambições geopolíticas, que o dinheiro do petróleo proporciona e financia.
Quando Samuel Huntington formulou a sua teoria do choque entre civilizações, acentuando unicamente as religiões, como razão de conflito, pretendeu responder a Francis Fukuyama, um neoconservador, que havia declarado o fim de História, com o domínio incontestado, indestrutível e irreversível do sistema político, social e económico do Ocidente, e que acabaria, com o tempo, por seduzir os outros povos. Samuel Huntington, ao contrariar Fukuyama, não fez mais do que construir uma teoria para justificar as guerras inevitáveis que vinham aí, desencadeadas pelos Estados Unidos, permitindo, tal como no caso das Cruzadas, esconder os objectivos económicos e geopolíticos da sua natureza imperial.

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