Amigo de Yanis Varoufakis, este ex-conselheiro
de Jacques Delors e de António Guterres revela o que pode acontecer na cimeira
extraordinária do Ecofin na próxima semana.
"As instituições já existem. O Banco Europeu de
Investimentos (BEI) e o Fundo Europeu de Investimentos, que eu sugeri quando
aconselhava Jacques Delors [Presidente da Comissão Europeia] nos anos 90. Como?
Através da emissão de obrigações. Como Roosevelt fez, para financiar os
investimentos sociais e ambientais do New Deal que reduziram o
desemprego, entre 1933 e a Segunda Guerra Mundial, de 25% para menos de 10%. E
isto foi feito com um déficit orçamental médio de 3% - o limite de Maastricht…"
Paulo Pena
***«»***
A cultura neoliberal, que domina as chancelarias
europeias, insiste na abordagem da vertente financeira da crise, quando o
problema, a nível da Europa, reside na economia, que só não cresce
consistentemente, como ainda, e isto é até o mais grave, corre o risco de
entrar em deflação. A solução passa, pois, por encontrar estímulos para
desenvolver a economia. O caso da Grécia e de Portugal, a suportarem quatro anos de uma
dura austeridade, mostra que não é pelo lado do défice orçamental e da
dívida pública que se resolve o problema. O problema resolve-se com a opção de
um criterioso investimento público sectorial, gerador de emprego, que, por sua
vez, irá desenvolver a economia, condição necessária para realizar saldos
primários positivos, a nível orçamental, assim como crescentes saldos
positivos, ao nível da procura externa. Só por esta via, e não pelo estrangulamento
da procura interna, se poderão encontrar folgas para pagar a dívida aos
credores internacionais. E se mais alguma coisa há a fazer, além de um maior envolvimento
dos estados na economia, será pelo lado da política cambial, promovendo a desvalorização
do euro e alinhando o seu valor pela média da produtividade do conjunto dos
estados membros, que o adotaram, a fim de aumentar a sua competitividade
externa e poder-se assim fomentar as exportações para fora do espaço
comunitário.
Há uma coisa que tem de entrar na cabeça das
pessoas e dos dirigentes políticos: está demonstrado estatisticamente e
matematicamente ser impossível, com a atual política recessiva e austeritária,
subordinada ao peso da dívida e do seu serviço e à intransigente rigidez
orçamental, a Grécia e Portugal poderem garantir os compromissos estabelecidos
com a troika. A não ser que se queira
reduzir os dois países à endémica pobreza de alguns países africanos.
Portugal já não se livra, em virtude da
desvitalização demográfica, provocada pela aplicação de políticas erradas, de
vir no futuro a enfrentar uma gravíssima e longa crise geracional, associada ao
envelhecimento da sua população, e que começará a fazer sentir-se, no domínio
económico e financeiro, já na próxima geração. E a responsabilidade desta
tragédia tem de ser assacada por inteiro à política deste governo de direita,
que deste modo está a fazer a cova, onde o país irá ser enterrado.
AC
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