Comentário sobre o acordo na reunião de
emergência do Eurogrupo
1. O dia de hoje marca uma viragem para a Grécia. Negociações significam dar luta sem recuar no mandato popular recebido. Ficou provado que podia ter acontecido uma negociação ao longo destes anos e que a Grécia não está isolada, não caminha em direção ao precipício e não continuará com o Memorando.
2. O plano para encurralar o governo Grego até 28 de fevereiro foi derrubado. O plano estratégico fundamental para este período temporal (4 meses), no quadro de um acordo intermédio que nos dará a possibilidade de negociar, foi bem sucedido.
3. As tentativas de chantagem das últimas 24 horas deram em nada. O pedido para uma extensão do acordo de empréstimo acabou por ser aceite em princípio, e constitui a base para as próximas decisões e para o que aconteça a seguir.
4. As medidas de recessão a que o anterior governo estava vinculado foram derrubadas (o email de Hardouvelis sobre os cortes nas pensões, aumentos de impostos, etc.), bem como os acordos sobre os excedentes primários exorbitantes.
5. O edifício extra-institucional da TROIKA, que estava a dar ordens e se tornou num superpoder, acabou.
6. O novo governo Grego apresentará a sua própria lista de reformas para a próxima fase intermédia, propondo aquelas que constituam um ponto de encontro.
7. O governo Grego e a Europa irão tomar o tempo necessário para que comece a negociação tendo em vista a transição final, de políticas de recessão, desemprego e insegurança social para políticas de crescimento, emprego e justiça social.
8. O governo Grego prosseguirá com lucidez a sua governação, tendo ao seu lado a sociedade Grega, e continuará a negociação até ao acordo final no verão.
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Em dois textos anteriores, assinalei que Grécia
não saiu derrotada neste duro embate com a Alemanha e com as instâncias da
União Europeia. Pelo contrário, conseguiu impor a aceitação do princípio de que
o governo não irá implementar mais nenhuma medida de austeridade, o que irá
refletir-se na queda do saldo orçamental primário, em 2015. As medidas de
austeridade, que o governo anterior já tinha programado, ficam, assim, sem
efeito É certo que a Grécia abdicou de algumas exigências iniciais, mas isso
não é motivo para alimentar as críticas, que já começaram a surgir dentro do
próprio Syrisa. Este não é o momento
da divisão. Tem de ser um momento de grande unidade, à volta do governo de
Alexis Tsipras, para lhe dar força e confiança para os novos embates com a UE,
nos próximos quatro meses.
A uma amiga que me interpelou sobre este asunto,
respondi: “Eu também fiquei desiludido, assim como todos os portugueses que
estão solidários com o martirizado povo grego. Mas os governantes têm de
assumir o realismo das situações. E, na Grécia, a situação seria dramática se o
governo, em Março, não tivesse dinheiro para pagar aos funcionários públicos.
Foi uma negociação muito dura, de um contra todos e de todos contra um, mas o ministro das Finanças
grego, além da sua tenacidade e determinação, revelou qualidades ímpares de
negociador. Perante a opinião pública europeia, ele ficou bem visto. O Eurogrupo e a Merkel, é que não”.
Pela primeira vez, acontece uma rebelião dentro
da União Europeia. Pela primeira vez, um pequeno país, inferiorizado e
humilhado por uma crise dramática, aparece a desafiar a toda poderosa Alemanha
e a sua chanceler. Pela primeira vez, foi possível ver, à vista desarmada, que
a União Europeia não é um espaço de solidariedade, mas um meio de negócio
encapotado, destinado a favorecer os seus países mais ricos, principalmente a
Alemanha, à custa dos países mais pobres, através do traiçoeiro processo de endividamento
induzido. E este glorioso feito foi protagonizado pelo governo grego.
Para encontrarmos algo de semelhante, será necessário recuar até à década de sessenta, do século passado, quando o General De Gaule, num gesto patriótico, para marcar a dignidade da França, bateu estrondosamente com a porta aos americanos, decretando a saída da França da estrutura militar da NATO.
Para encontrarmos algo de semelhante, será necessário recuar até à década de sessenta, do século passado, quando o General De Gaule, num gesto patriótico, para marcar a dignidade da França, bateu estrondosamente com a porta aos americanos, decretando a saída da França da estrutura militar da NATO.
Eu só espero que, a breve prazo, Portugal também
se levante em peso, para também poder dizer-se que recuperámos a dignidade e a
plena soberania.
2 comentários:
Pois eu de Portugal enquanto estiver esta ceita não acredito, que possam ter uma postura idêntica à da Grécia....Impossível, quando eles estão contra a Grécia e a favor da Alemanha....Tem sido vergonhosa a atitude do Presidente, da Luísa Albuquerque e Passos.
Ana: Temos de correr com a corja.O que acontecer na Grécia vai ser decisivo, para os portugueses abrirem os olhos.
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