A família política socialista e social –
democrata, agrupada no Partido Socialista Europeu (PSE), reuniu-se no sábado em
Madrid, tendo aprovado duas resoluções conjuntas, sobre o combate ao terrorismo
e a necessidade de reorientar a política europeia para o crescimento e o
emprego.
Como é que os dirigentes destes partidos, que se
dizem de esquerda, vêm agora declarar - como se tratasse de uma proposta
original, nunca abordada pelos partidos mais à sua esquerda, como é caso do PCP
e do BE, em Portugal - que é necessário acabar com a austeridade na Europa e
inverter o ciclo político, apostando em políticas de crescimento económico e de
crescimento do emprego, quando a maior parte daqueles partidos (socialistas,
sociais-democratas) são cúmplices ativos ou passivos, conforme tivessem estado no
poder ou na oposição, dessas mesmas políticas de austeridade, que estão a
arrasar as economias dos países do sul da Europa, principalmente as de Portugal
e a da Grécia?! Como é possível tanto descaramento, por parte destes
dirigentes, que são uns autênticos moluscos, sem coluna vertebral, incapazes de
anunciar os meios para implementar as tais políticas, que anunciam, ficando-se,
modestamente, pela enunciação de objetivos genéricos e sedutores, sem que se
pronunciem sobre os problemas estruturais da crise, nomeadamente sobre a
necessária revisão do Tratado Orçamental e a necessidade de renegociar e
reestruturar as dívidas públicas?! Isto, num momento em que muitos políticos e
economistas conservadores já contestam também tais políticas, ou, pelo menos,
duvidam do seu sucesso?
Nós já sabíamos que os partidos da Internacional
Socialista, da qual os partidos nacionais do PSE são membros efetivos, têm
servido de escudo ao capitalismo económico e financeiro, tentando evitar a influência,
a progressão e o crescimento dos partidos e movimentos políticos, que são
considerados uma ameaça potencial para o sistema instituído, sistema este que
foi completamente capturado, de forma oculta, pelo mundo ligado ao capital, e que
se tornou cada vez mais agressivo e poderoso, como hoje se pode verificar, em
relação à crise da Grécia. Quando os partidos retintamente de direita e que
simulam menos a sua natureza de classe, são corridos pela via eleitoral, lá
estão os partidos da Internacional Socialista a cumprir o seu papel na
alternância democrática, mas sem nunca pôr em causa os princípios fundamentais
do sistema. E o problema reside no próprio sistema, que foi desenhado e
implementado para beneficiar as classes possidentes e, principalmente, o capital financeiro. E não é por acaso que
todos os candidatos a primeiros-ministros e a outros cargos de âmbito
internacional, pertencentes à área socialista, também têm de passar pelo crivo
seletivo do Club Bilderberg.
A presente crise da Europa teve o mérito de
clarificar, para muita gente, a natureza híbrida destes partidos. Assumem uma
linguagem de esquerda, enquanto se encontram na oposição, mas, uma vez no
poder, fazem uma política de direita, embora a suavizem com umas tantas medidas
de cariz socializante. Poderemos dizer que os partidos conservadores e os
partidos da área socialista e social-democrata são dois ramos da mesma árvore
ou as duas faces da mesma moeda.
Porque se encontram na mó de baixo e porque não
tiveram tempo, durante esta crise, de mistificar o seu posicionamento, foram
triturados por ela. O caso mais flagrante é o do PASOK, o partido socialista
grego, que se transformou num partido minúsculo e residual, sem expressão
eleitoral. O socialista François Holland conseguiu a proeza de ser o Presidente
de França mais impopular da V República, a República que foi instituída pelo general De
Gaule, na década de sessenta do século passado. O PSOE está a um passo de ser
ultrapassado pelo vigoroso partido, o PODEMOS. Não temos dúvidas que o PS de
António Costa acabará também por ser comido por esta voragem clarificadora, se
vier a constituir o próximo governo de Portugal, e caso a Europa teime em
manter o paradigma da austeridade.
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