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domingo, 22 de fevereiro de 2015

Notas do meu rodapé: Os socialistas à procura do discurso eleitoralista mais favorável


A família política socialista e social – democrata, agrupada no Partido Socialista Europeu (PSE), reuniu-se no sábado em Madrid, tendo aprovado duas resoluções conjuntas, sobre o combate ao terrorismo e a necessidade de reorientar a política europeia para o crescimento e o emprego.
Como é que os dirigentes destes partidos, que se dizem de esquerda, vêm agora declarar - como se tratasse de uma proposta original, nunca abordada pelos partidos mais à sua esquerda, como é caso do PCP e do BE, em Portugal - que é necessário acabar com a austeridade na Europa e inverter o ciclo político, apostando em políticas de crescimento económico e de crescimento do emprego, quando a maior parte daqueles partidos (socialistas, sociais-democratas) são cúmplices ativos ou passivos, conforme tivessem estado no poder ou na oposição, dessas mesmas políticas de austeridade, que estão a arrasar as economias dos países do sul da Europa, principalmente as de Portugal e a da Grécia?! Como é possível tanto descaramento, por parte destes dirigentes, que são uns autênticos moluscos, sem coluna vertebral, incapazes de anunciar os meios para implementar as tais políticas, que anunciam, ficando-se, modestamente, pela enunciação de objetivos genéricos e sedutores, sem que se pronunciem sobre os problemas estruturais da crise, nomeadamente sobre a necessária revisão do Tratado Orçamental e a necessidade de renegociar e reestruturar as dívidas públicas?! Isto, num momento em que muitos políticos e economistas conservadores já contestam também tais políticas, ou, pelo menos, duvidam do seu sucesso?
Nós já sabíamos que os partidos da Internacional Socialista, da qual os partidos nacionais do PSE são membros efetivos, têm servido de escudo ao capitalismo económico e financeiro, tentando evitar a influência, a progressão e o crescimento dos partidos e movimentos políticos, que são considerados uma ameaça potencial para o sistema instituído, sistema este que foi completamente capturado, de forma oculta, pelo mundo ligado ao capital, e que se tornou cada vez mais agressivo e poderoso, como hoje se pode verificar, em relação à crise da Grécia. Quando os partidos retintamente de direita e que simulam menos a sua natureza de classe, são corridos pela via eleitoral, lá estão os partidos da Internacional Socialista a cumprir o seu papel na alternância democrática, mas sem nunca pôr em causa os princípios fundamentais do sistema. E o problema reside no próprio sistema, que foi desenhado e implementado para beneficiar as classes possidentes e, principalmente, o capital financeiro. E não é por acaso que todos os candidatos a primeiros-ministros e a outros cargos de âmbito internacional, pertencentes à área socialista, também têm de passar pelo crivo seletivo do Club Bilderberg.
A presente crise da Europa teve o mérito de clarificar, para muita gente, a natureza híbrida destes partidos. Assumem uma linguagem de esquerda, enquanto se encontram na oposição, mas, uma vez no poder, fazem uma política de direita, embora a suavizem com umas tantas medidas de cariz socializante. Poderemos dizer que os partidos conservadores e os partidos da área socialista e social-democrata são dois ramos da mesma árvore ou as duas faces da mesma moeda.
Porque se encontram na mó de baixo e porque não tiveram tempo, durante esta crise, de mistificar o seu posicionamento, foram triturados por ela. O caso mais flagrante é o do PASOK, o partido socialista grego, que se transformou num partido minúsculo e residual, sem expressão eleitoral. O socialista François Holland conseguiu a proeza de ser o Presidente de França mais impopular da V República, a República que foi instituída pelo general De Gaule, na década de sessenta do século passado. O PSOE está a um passo de ser ultrapassado pelo vigoroso partido, o PODEMOS. Não temos dúvidas que o PS de António Costa acabará também por ser comido por esta voragem clarificadora, se vier a constituir o próximo governo de Portugal, e caso a Europa teime em manter o paradigma da austeridade.

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