Constelação de estrelas mediáticas e políticas
compareceu na Gulbenkian para “celebrar” a vida do ex-ministro que ajudou
Portugal a entrar na CEE.
Por mais de uma vez, ao longo do último dia do
colóquio que, na Fundação Gulbenkian, homenageou o desaparecido político e
historiador próximo do PS, José Medeiros Ferreira, os intervenientes citaram a
expressão com que o próprio político se caracterizava. Via-se como um “profeta
desarmado”, recuperado da pena de Maquiavel, expressão que, mais tarde, viria a
ser utilizada para catalogar Leon Trotsky. No entanto, ao longo das horas de
palestras sobre as mais variadas “facetas” da vida do ex-ministro dos Negócios
Estrangeiros que ajudou Portugal a entrar na CEE, o retrato que pairou no
auditório foi de um profeta maldito.
PÚBLICO
PÚBLICO
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Conheci Medeiros Ferreira no Regimento de
Infantaria Nº 1, na Amadora. Eu estava a cumprir o meu primeiro serviço militar
obrigatório e ele apareceu para se enquadrar numa companhia, que partiria para
África. À noite, no salão da Messe de Oficiais, juntamente com mais dois ou
três alferes, discutíamos a política nacional, as greves académicas, das quais
ele foi um dos líderes, e a Guerra Colonial. Medeiros Ferreira destacava-se do grupo,
quer pela solidez do seu discurso, quer pela muita informação que recebia
clandestinamente de vários grupos de exilados políticos, em França, na Suíça e
na Argélia, Chegou a emprestar-me dois livros, em edição francesa, sobre a
Guiné e sobre Amílcar Cabral.
Num certo dia e a uma certa hora, chegou a
notícia ao Quartel: Medeiros Ferreira tinha desertado.
É ele o autor daquela célebre sigla dos três
"D": Democratizar, Descolonizar e Desenvolver, que titulou a sua
tese, que ele, da Suíça, fez chegar ao III Congresso da Oposição Democrática,
em Aveiro, através da sua mulher, e que, posteriormente, foi recuperada pela revolução de Abril.
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