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sexta-feira, 6 de novembro de 2009

A corrupção começa nos partidos...


O primeiro ministro não consegue disfarçar o seu grande incómodo, quando alguém se lhe dirige a falar-lhe de corrupção. Ele lá saberá porquê, e nós também.
Ontem, na Assembleia da República, durante a discussão do programa do governo, a sua indelicada resposta ao deputado José Pacheco Pereira, que o havia inquirido sobre a possibilidade de se iniciar a abordagem política dos casos de corrupção, que, neste momento, se encontram sob a alçada da justiça, só muito dificilmente não descambou para mais uma encenação da conhecidíssima rábula da vitimização e da ressuscitação do espectro da campanha negra. José Sócrates melindrou-se, assumindo o papel de dama ofendida, o que, diga-se de passagem, não lhe fica bem.
O processo de investigação "Face Oculta", por muito que custe ao primeiro ministro, já é um problema político, uma vez que veio atingir em cheio antigos dirigentes do Partido Socialista, um deles, ex-ministro, e que, por acaso, até é reincidente na sua condição de suspeito. E nada nos garante que, perante algumas dúbias e controversas decisões do anterior governo, não existam mais casos promíscuos entre governantes e empresas privadas.
Os dirigentes do Partido Socialista, quando boicotaram o projecto do combate à corrupção, do seu destacado militante, João Cravinho, demonstraram, com evidente sobranceria, não estar interessados em matar a galinha de ovos de ouro, pouco lhes interessando que o alastramento do flagelo se repercutisse no prestígio das instituições democráticas.
A mesma ilação se poderá tirar, em relação às iniciativas previstas no programa do actual governo, e ontem anunciadas com alguma tibieza no parlamento. A pueril intenção da elaborar códigos de conduta no aparelho de Estado, aos quais se procura dar certificados de garantia com a experiência acumulada em vários países europeus, não passa de uma operação de cosmética. A corrupção, que começa a desacreditar os políticos e o regime, exige medidas consensuais muito mais profundas, a começar pela revisão do comportamento dos próprios partidos, verdadeiros alfobres da promiscuidade entre a política e os negócios.

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