O Alpendre da Lua foi das primeiras vozes a considerar que a relevância e a gravidade do teor das escutas telefónicas, envolvendo Armando Vara e o primeiro ministro, deveriam passar para o discurso político, independentemente dos trâmites processuais a que a sua natureza jurídica obriga. Ao mesmo tempo, e pelo mesmo motivo, exigia-se a divulgação pública do teor dessas conversas, registadas pela escutas telefónicas.
Posteriormente, ocorreu o discurso de Manuela Ferreira Leite na Assembleia da República, a reclamar a politização do caso, e, recentemente, o Procurador Geral da República já se comprometeu a revelar o teor das escutas. O Alpendre da Lua tinha razão.
E continuará a ter razão, quando agora também exige que a Assembleia da República convoque o primeiro ministro para dar explicações sobre o caso, e que o Procurador Geral da República cumpra rapidamente o que prometeu, para que, por um lado, os portugueses fiquem completamente esclarecidos sobre o que se está a passar, e, por outro lado, para evitar que a campanha de desinformação, que o governo já tem em marcha para salvar a face do primeiro ministro, não tenha tempo de intoxicar a opinião pública.
Por várias vezes já aqui se escreveu que Portugal não pode ser governado por um primeiro ministro, sob suspeita permanente. A credibilidade da política exige a elevação moral dos governantes, e principalmente agora, perante a necessidade imperiosa de enfrentar os desafios da crise internacional, que ainda não terminou, pois apenas está na sua fase inicial, e da própria crise interna, de carácter eminentemente estrutural. Se os agentes económicos pressentirem que o governo do país é uma agência central de alta corrupção e de descarado nepotismo, irão certamente baixar as suas expectativas e reduzir as suas iniciativas, ao mesmo tempo que a opinião pública, massacrada constantemente com o discurso da inevitabilidade dos sacrifícios, não estará disposta a aceitar pacificamente as duras medidas que se se avizinham.
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