Foi deprimente ver um juiz do Conselho Superior de Magistratura vir à televisão ler o guião de um filme realizado pelas mais altas instâncias judiciais. Apesar da solenidade emprestada ao acto, o actor secundário do filme não conseguiu ser convincente na leitura do discurso que lhe incumbiram e, ao contrário do que os seus pares, reunidos em conclave, pensaram, a emenda foi pior do que o soneto. Em vez de algumas certezas, o teor anedótico do comunicado ainda provocou mais dúvidas na opinião pública, que, atónita, assiste ao degradante espectáculo de uma justiça que está a copiar os maus exemplos dos políticos, ao também ela começar a recorrer à ficção e às encenações.
Quando o país esperava que o CSM se pronunciasse sobre a polémica que estalou no país, na sequência da decisão do presidente do Supremo Tribunal de Justiça, ao ter declarado nulas as gravações das comunicações telefónicas, envolvendo o primeiro-ministro, e determinado, acto contínuo, a sua destruição, eis que um juiz, já com um ar pesado de um jubilado, nos vem dizer que, afinal, para sossego das consciências atormentadas, a decisão nunca tinha sido contestada pelo juiz de instrução do processo Face Oculta, tal como a imprensa, presume-se que malévola, noticiara no fim de semana. Para reforçar a credibilidade do solene desmentido, o CSM mandou acrescentar o preciosismo da data e da hora em que foi por si recebida a reconfortante comunicação do juiz de Aveiro.
Desta forma, com um expediente, assim grosseiramente montado, todos salvaram a face, que aqui não é oculta. A autoridade do presidente do Supremo foi restaurada, o que pareceu ser um acto de indisciplina de um juiz da província foi anulada pacificamente, e a Justiça voltou a colocar a venda nos olhos. Mais uma vez se dominou o ataque de carácter ao primeiro-ministro. E ainda bem, pois ficou demonstrada a solidez e a determinação da Justiça.
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