Desde que foi nomeado primeiro ministro, pela primeira vez, José Sócrates evidenciou logo a intenção de subjugar os dois poderes que lhe poderiam fazer frente: o poder judicial e a comunicação social, considerando este, informalmente, um poder não institucionalizado. A maioria absoluta já lhe proporcionava o domínio seguro do poder executivo e do poder legislativo, e, através dela, seria fácil controlar e disciplinar todo o aparelho do Partido Socialista. Confiante, ele também pensaria que, mais tarde ou mais cedo, poderia instalar em Belém um Américo Tomás qualquer, para ir cortando uma fitinhas coloridas em sumptuosas inaugurações, que glorificassem o regime, desenhado à sua imagem e semelhança. A sua energia, a sua enorme capacidade de se submeter a um plano de acção pessoal e a sua demagogia eleiçoeira fariam o resto, ou seja, garantiriam a hegemonia do PS nos actos eleitorais. O objectivo secreto seria a mexicanização do regime.
José Sócrates já se revia, não na figura de um Lázaro Cardenas, o fundador do PRI mexicano, que desencadeou, em 1929, uma profunda revolução política, económica e social, mas na do seu sucessor, Manuel Ávila Camacho, que, invertendo o rumo político daquele partido, lançou as bases para a sua perpetuação no poder, até ao ano 2000, no meio de grandes turbulências políticas e sempre assombrado pela galopante corrupção do aparelho de Estado e dos políticos.
José Sócrates já se revia, não na figura de um Lázaro Cardenas, o fundador do PRI mexicano, que desencadeou, em 1929, uma profunda revolução política, económica e social, mas na do seu sucessor, Manuel Ávila Camacho, que, invertendo o rumo político daquele partido, lançou as bases para a sua perpetuação no poder, até ao ano 2000, no meio de grandes turbulências políticas e sempre assombrado pela galopante corrupção do aparelho de Estado e dos políticos.
Embora dispondo de uma confortável maioria absoluta, que lhe insuflava um ânimo ganhador, José Sócrates o mais que conseguiu obter para a prossecução desse seu objectivo pessoal resumiu-se à inócuo medida de reduzir para um mês o período das férias judiciais, mas que lhe serviu para marcar o território do inimigo, e reduzir ligeiramente a garantia do sigilo das fontes jornalísticas. Colateralmente, a domesticação destes dois sectores profissionais também lhe serviria para anular o efeito das bombas dos escândalos, que mediaticamente o envolveram.
Entretanto, as contas saíram-lhe furadas. A crise internacional, a declarar-se em em ano de ciclo eleitoral, desmascarou as insuficiências e as fragilidades internas da economia portuguesa e da situação social do país, onde, apesar da pobreza ter diminuído, as desigualdades sociais não pararam de aumentar. Perdeu uma batalha, a maioria absoluta, mas considerou não ter perdido a guerra, conseguindo manter-se no poder. Da arrogância ostensiva passou para uma encenada modéstia; de uma política com tiques autoritários, transferiu-se simuladamente para uma postura de falsa conciliação e consenso.
O golpe de Estado constitucional não foi derrotado. Apenas foi adiado. E o que se passou recentemente nas cúpulas do aparelho da Justiça, que já alguém baptizou de golpe de Estado contra os juízes e procuradores, e a intenção de agravar as penas pela quebra do segredo de justiça, cujos destinatários, não declarados, são os jornalistas, servem para recordar que o objectivo de Sócrates ainda está em cima da mesa.
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