O professor Joseph E. Stiglitz, investigador associado da l'OFCE, Prémio Nobel da Economia.
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Joseph Stiglitz : A austeridade conduz ao desastre
Joseph Stiglitz, 67 anos, Prémio Nobel da economia
em 2001, ex-conselheiro económico do presidente
Bill Clinton (1995-1997) e ex-economista-chefe
do Banco Mundial (1997-2000), é conhecido pelas
suas posições críticas sobre as grandes
instituições financeiras internacionais, sobre o
pensamento único em relação à globalização e ao
monetarismo. Ele deixa ao Le Monde a sua análise
sobre a crise do euro.
Le Monde
Sugestão do amigo Mário Jorge Neves.
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A voz autorizada do professor Stiglitz não deixa margem para dúvidas. A estratégia adoptada pela UE, para enfrentar a crise financeira subjacente à derrapagem orçamental e ao crónico endividamento dos países periféricos, revela-se perigosa para a própria sustentabilidade da moeda única. As duras medidas restritivas, impostas à Grécia, Portugal e Espanha, irão provocar a asfixia das respectivas economias, tendo como objectivo torná-las mais competitivas, através da redução do custo de mão de obra e da diminuição do peso do Estado nas políticas sociais. A consumar-se esta perversa estratégia, que beneficia principalmente a economia alemã (leia-se, a sua classe empresarial), os países periféricos irão regredir para os níveis de desenvolvimento existentes antes das respectivas adesões, frustrando-se assim as enormes expectativas colocadas na construção do edifício europeu, a tal ponto que mais nenhum país estará interessado em a ele aderir. A Turquia já deixou, pelo menos aparentemente, de exigir maior rapidez na sua admissão.
Com a instituição do euro, a economia da Alemanha conseguiu assegurar o seu desenvolvimento à custa das suas exportações, que já representam 50 por cento do seu PIB, e principalmente dirigidas para o mercado europeu, que absorve dois terços do seu total. Por outro lado, a Alemanha, e isto é que desequilibrou a economia europeia no seu conjunto, diminuiu a sua procura, através de uma política de contenção salarial, posta em prática durante a última década, o que teve repercussões na balança comercial dos países da periferia, que, impotentes, assistiram à desaceleração das suas exportações para aquele país, como foi o caso de Portugal. Como consequência da perda de liquidez, estes países sentiram-se obrigados a recorrer a um crescente endividamento, que lhes foi fatal. E como uma desgraça nunca vem só, os empréstimos foram contraídos junto de bancos alemães e franceses, os mesmos que agora estão a fazer pressões para que os juros das dívidas subam para patamares insuportáveis.
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