Pina Bausch em Café Muller
Pina Bausch: Morreu um génio da dança contemporânea
Quando a arte se desliga da vida, a arte morre. Foi o que Pina Bausch evitou que acontecesse à dança, inventando-lhe novas linguagens e abrindo-a a novas e revolucionárias temáticas. Apesar das dificuldades dos primeiros tempos, com o público e a crítica a fustigá-la, Pina Bausch ainda viveu o tempo suficiente para ser reconhecida e aplaudida no mundo inteiro. Mas foi uma luta difícil, que só a sua determinação e coragem conseguiram vencer.
Lisboa teve a oportunidade de ver os seus espectáculos e de a admirar. Masurca Fogo foi construída em Lisboa e para Lisboa, a partir de uma sua ideia inicial, que depois acabou por incorporar as vivências e experiências dos bailarinos, a residir temporariamente nesta cidade, correspondendo ao convite da direcção da Expo 98. A peça foi apresentada em Maio de 1998 no Centro Cultural de Belém. Esse longo período de permanência em Lisboa, onde já apresentara anteriormente outros espectáculos, deu-lhe a oportunidade de nela fazer amigos e recrutar admiradores.
O seu mérito, marcado por uma genialidade deslumbrante, consistiu em ter conseguido, na linguagem coreográfica, uma renovada relação entre a dança e o teatro, o que lhe permitiu integrar nas suas criações novas expressões artísticas. Com ela, a dança deixou de ser um espaço contemplativo, onde os dançarinos eram apreciados pelo virtuosismo da sua técnica, para passar a ser um campo de reflexão e de emoções, o que exigia novos públicos ou públicos mais antigos, devidamente reciclados. O bailado deixou de ser aquele espectáculo à moda da antiga ópera de S. Carlos, que exigia smoking aos espectadores, para passar a ser um espectáculo para um público culto e interessado, que pensasse a arte como arma de intervenção. E esse público, que se começou a formar no último quartel do século passado, compreendeu a profunda ruptura que Pina Bausch provocou na dança contemporânea, assim como Pina Bausch compreendeu que nenhuma revolução é inócua e pacífica. Para sobreviver, a arte tem de se enriquecer com novas linguagens e novos elementos culturais de vanguarda, pois não é a arte que tem de descer aos infernos, à vulgaridade, mas terão de ser os homens a subir aos céus, às formas superiores dos valores estéticos e artísticos.
A conflitualidade entre o homem e a mulher, a incomunicabilidade e a solidão são temas recorrentes na sua obra, e este alargamento dos horizontes temáticos permitiu a sobrevivência da dança como arte de intervenção. A voz, na representação sobre as tábuas, deixou de ser um monopólio do teatro e da ópera, para passar a ser também um território orgânico da dança. E isso deve-se ao génio criador de Pina Bausch, que morreu ontem, aos 68 anos de idade.
Quando a arte se desliga da vida, a arte morre. Foi o que Pina Bausch evitou que acontecesse à dança, inventando-lhe novas linguagens e abrindo-a a novas e revolucionárias temáticas. Apesar das dificuldades dos primeiros tempos, com o público e a crítica a fustigá-la, Pina Bausch ainda viveu o tempo suficiente para ser reconhecida e aplaudida no mundo inteiro. Mas foi uma luta difícil, que só a sua determinação e coragem conseguiram vencer.
Lisboa teve a oportunidade de ver os seus espectáculos e de a admirar. Masurca Fogo foi construída em Lisboa e para Lisboa, a partir de uma sua ideia inicial, que depois acabou por incorporar as vivências e experiências dos bailarinos, a residir temporariamente nesta cidade, correspondendo ao convite da direcção da Expo 98. A peça foi apresentada em Maio de 1998 no Centro Cultural de Belém. Esse longo período de permanência em Lisboa, onde já apresentara anteriormente outros espectáculos, deu-lhe a oportunidade de nela fazer amigos e recrutar admiradores.
O seu mérito, marcado por uma genialidade deslumbrante, consistiu em ter conseguido, na linguagem coreográfica, uma renovada relação entre a dança e o teatro, o que lhe permitiu integrar nas suas criações novas expressões artísticas. Com ela, a dança deixou de ser um espaço contemplativo, onde os dançarinos eram apreciados pelo virtuosismo da sua técnica, para passar a ser um campo de reflexão e de emoções, o que exigia novos públicos ou públicos mais antigos, devidamente reciclados. O bailado deixou de ser aquele espectáculo à moda da antiga ópera de S. Carlos, que exigia smoking aos espectadores, para passar a ser um espectáculo para um público culto e interessado, que pensasse a arte como arma de intervenção. E esse público, que se começou a formar no último quartel do século passado, compreendeu a profunda ruptura que Pina Bausch provocou na dança contemporânea, assim como Pina Bausch compreendeu que nenhuma revolução é inócua e pacífica. Para sobreviver, a arte tem de se enriquecer com novas linguagens e novos elementos culturais de vanguarda, pois não é a arte que tem de descer aos infernos, à vulgaridade, mas terão de ser os homens a subir aos céus, às formas superiores dos valores estéticos e artísticos.
A conflitualidade entre o homem e a mulher, a incomunicabilidade e a solidão são temas recorrentes na sua obra, e este alargamento dos horizontes temáticos permitiu a sobrevivência da dança como arte de intervenção. A voz, na representação sobre as tábuas, deixou de ser um monopólio do teatro e da ópera, para passar a ser também um território orgânico da dança. E isso deve-se ao génio criador de Pina Bausch, que morreu ontem, aos 68 anos de idade.
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