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domingo, 12 de julho de 2009

Notas do meu rodapé: O efeito magnético da imagem de Obama em África ou o regresso às origens


Estando a política intimamente ligada à economia, é natural, a nível da sua expressão externa, que os políticos avancem à frente dos negociantes, a fim de desbravarem e aplainarem o caminho e removerem os obstáculos existentes. E é nesta perspectiva que a visita a África do presidente Barack Obama tem de ser equacionada, não se negando, no entanto, a autenticidade da enorme carga emocional que vai apoderar-se dele, nem a genuidade das suas palavras, quando se dirige a todo o continente, reclamando o revigoramento institucional da democracia e a ostracização dos ditadores, para que se vença a batalha do desenvolvimento e a luta contra a fome e a doença. Palavras oportunas estas, já mil vezes repetidas por muitos políticos ocidentais e por alguns presidentes americanos, mas que, ditas pelo primeiro presidente negro da maior potência do mundo, têm um outro significado, que não pode ser ignorado.

E não existem dúvidas sobre os efeitos da força apelativa da imagem pública de Obama, num continente que foi submetido ao peso da escravatura, exportada para o Novo Mundo nos cavernosos porões dos navios, e tratada como uma mera mercadoria. Compreendo a emoção de Obama na visita ao Castelo de Cape Coast, a última estação, em terras africanas, do roteiro do calvário dos escravos negros. Naquele museu da memória da História, Obama sentiu certamente o sentimento da revolta e da amargura, e o seu sangue não deveria ter ficado quieto. A modernidade e o progresso do Ocidente civilizado ainda têm de pagar uma pesada factura aos povos africanos. E esse não é apenas um sentimento de Obama. É um sentimento de todos nós.
Mas esta visita e o desenho do seu roteiro não surgiram por acaso, nem foram fruto de um impulso sentimental de Obama. A visita corresponde à necessidade estratégica dos Estados Unidos de começar a expansão das suas influências políticas dominantes num continente, até ali relativamente ignorado pelos seus antecessores. Exceptuando a corajosa intervenção política de Kennedy, na primeira parte do seu mandato, a favor da descolonização e da independência das colónias portuguesas, foi necessário esperar cinquenta anos para que a África passasse a figurar, para o bem e para o mal, nos planos de Washington, já que o seu principal rival económico, a China, já por ali assentou arraiais, quer assegurando fornecimentos de petróleo, quer criando mais um mercado para as suas exportações e quer, ainda, fixando em alguns países empreendedoras comunidades nacionais.

A África, uma vez cicatrizadas as feridas das fratricidas guerras civis e das guerras étnicas, irá, a longo prazo, substituir a China na produção de mercadorias de baixo custo, já que se presume que o gigante asiático, nos próximos quarenta anos, subirá vários patamares, evoluindo para uma economia de maior valor acrescentado, com a incorporação de mais conhecimento e de mais tecnologia.

Por outro lado, as riquezas minerais da África são enormes, o que fez dela, durante a segunda revolução industrial, um continente cobiçado por todas as potências coloniais. A mesma potencialidade se poderá adivinhar na agricultura, um sector que poderá expandir-se exponencialmente com a pressão do projectado aumento da procura global de alimentos. Este desiderato só poderá ser alcançado com a mudança que a terceira geração de dirigentes e de quadros técnicos, formados após a independência de cada Estado, venha a introduzir no processo político e económico africano, tendo por modelo a África do Sul.

É neste quadro prospectivo, que os Estados Unidos começaram a interessar-se pela África e é neste contexto que surge a necessidade de explorar o magnético efeito de Obama.

1 comentário:

José Gonçalves Cravinho disse...

Obama não é negro mas mestiço e o seu tom de voz e o discurso é afinal semelhante ao de um evangelista e como tal populista e demagogo.