O filme “Ivan, o Terrível” é um dos mais importantes filmes do cineasta soviético, Serguei Eisenstein, talvez só suplantado pelo “O Couraçado de Potemkin”, um filme seu, realizado em 1925, e que é considerado, juntamente com “O Mundo a seus Pés”, de Orson Welles, um dos melhores filmes de sempre.
Mas “Ivan, o Terrível”, o seu último filme, cuja terceira e última parte não chegou a completar, por, entretanto, ter falecido, tem a vantagem de reflectir um profundo amadurecimento das suas concepções de realização e de montagem, que ele revolucionou, dando aos seus filmes aquela grandeza épica, que vai buscar aos momentos mais marcantes da História da Rússia.
Quer em “Ivan, o Terrível”, quer em “Alexandre Nevski” - este último, um filme encomendado por Stalin, mas que a sua genialidade transformou numa obra prima, pois o convite trazia agarrado o confessado intento de se produzir uma obra cinematográfica, que se inserisse na propaganda anti-germânica, e, ao mesmo tempo, exaltasse as virtualidades de um poder político fortemente centralizado e em que o “chefe” adquirisse o estatuto do mito - Eisentein ultrapassou os limites convencionais do figurino da cinematografia dos EUA e da Europa. O sucesso desses filmes foi retumbante.
Em “Ivan, o Terrível” apura-se aquela sua técnica de montagem, que ficou conhecida por “montagem dialéctica” ou “montagem inteligente”, em que se procura tirar resultados ao nível da narrativa fílmica, através do jogo dos efeitos dos contrários. E é principalmente ao nível do jogo das sombras que, neste filme, a sua mestria se impõe. Ao longo de todo o filme há uma intenção de construir um ambiente pesado e austero, por onde a intriga da corte faz o seu perverso percurso. O ritmo cénico, muito sincopado, a marcação dos movimentos gestuais, a grandeza dos rituais litúrgicos, de uma grande beleza, a cena empolgante da coroação, aquele desfile do povo, em procissão de vassalagem, numa fila enorme e sinuosa, através da neve, vista do palácio do czar, a captação dos olhares, desorbitados, em grande plano, e um elenco de actores, com um domínio seguro da arte da representação, fazem de “Ivan, o Terrível” um filme de antologia, que nunca mais se esquece.
1 comentário:
Tem razão, faz parte da minha galeria dos grandes filmes que vi.
Abraço.
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