José Sócrates aparece agora, patrioticamente, a salvar o país da bancarrota, quando, durante seis anos, também patrioticamente, o afundou no caos, com a sua política suicida, integralmente subordinada aos interesses do capitalismo europeu. Numa manobra bem concebida, em termos de marketing, a única ciência que ele domina bem, conseguiu a proeza de passar de vilão a vítima, acusando agora a oposição e, principalmente, o PSD (um partido que é a outra face da mesma moeda), de serem os responsáveis por esta hecatombe, que só tem paralelo, na história portuguesa, com a crise de 1580, em que o país perdeu a sua independência.
Intencionalmente, depois de ter percebido a impossibilidade de cumprir as metas impostas por Bruxelas, e inspiradas pela senhora Merkel, ensaiou aquele número de circo da sua demissão, demissão que passou a ser estratégica, para poder garantir a sua futura sobrevivência política e sair airosamente desta crise. Ele sabia (e a senhora Merkel também) que, com a sua demissão, que ele provocou, iria acelerar-se a pressão sobre a dívida portuguesa, o que lhe permitiu dramatizar a situação, colocando os portugueses entre a espada e a parede, e apresentar ao país a opção mais desfavorável e a mais penosa – o pedido de ajuda à União Europeia e ao FMI. A direita e o grande capital, com os bancos portugueses a arreganharem a dentuça e a mostrarem que são eles que mandam no país, ganharam mais uma batalha. Os portugueses, principalmente a classe média e a população mais desfavorecida, vão comer o pão que o diabo amassou.
Durante os próximos dias, os portugueses vão ser submetidos a uma barrela de propaganda intensiva, a tentar convencê-los de que este era o único caminho a seguir. É uma fraude! É uma autêntica fraude! Havia alternativas, e a mais consistente seria a de negociar com Bruxelas a reestruturação da dívida e o prolongamento do prazo para a redução do défice orçamental, sob a ameaça de que, se estas condições não fossem aceites, Portugal sairia do Eurogrupo, ameaça esta que, mesmo que não passasse de uma secreta intenção especulativa, aterrorizaria os bancos alemães, franceses e espanhóis (os principais credores da dívida portuguesa) e os governos respectivos. Perante uma ameaça de incumprimento, que, se se concretizasse, arrasaria a moeda única, os donos da Europa, que são gigantes com pés de barro, seriam obrigados a ceder às pretensões portuguesas.
Os dirigentes dos governos da Grécia e da Irlanda, perfeitamente integrados, tal como os dirigentes do PS e do PSD, na correia de transmissão da doutrina neoliberal do grande capital financeiro, que já governa grande parte do planeta, assumiram o gesto público da vassalagem, traindo os interesses dos seus povos. E, em Portugal, hoje, dia 6 de Abril de 2011, foi cometido um acto de alta traição.
1 comentário:
No tempo do Ademar, ganhava já um poema!...
A mim, não inspira...
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