A União Europeia (UE) anunciou ontem
que quer impor uma "transparência total"
no mercado dos produtos financeiros
altamente especulativos que são geralmente
acusados de terem agravado a crise da dívida
grega.
PÚBLICO
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A União Europeia quer agora apagar algumas das fogueiras que ateou e que ameaçam, a breve trecho, incendiar a casa toda. Ao implementar, na década de noventa, as políticas económicas e financeiras, derivadas do Consenso de Washington, o instrumento teórico que acabou por abrir as portas à aplicação das doutrinas neoliberais, que preconizavam a desregulamentação dos mercados de capitais, as privatizações e a total liberalização da economia, os dirigentes europeus, incluindo os portugueses, que, na altura, se pavoneavam petulantemente pelos salões e pelas televisões, repetindo até à exaustão aquela célebre frase "menos Estado, melhor Estado", não se aperceberam que a castanha iria rebentar-lhes na boca. Permitiram que a especulação financeira, quer a mais visível quer a mais opaca, se constituísse no motor do sistema, que através de um jogo complexo de intervenções veio favorecer a obscena acumulação de lucros pelo capital financeiro e pelas multinacionais. A partir daí, os governos europeus atrelaram-se ao poder económico. Em Portugal, os subservientes governos de Guterres, Durão Barroso, Santana Lopes e, agora, o de José Sócrates passaram ao estatuto de agências camufladas do capitalismo financeiro indígena, que esconde a sua riqueza nas SGPS, onde o Estado não vai cobrar impostos sobre as mais-valias.
Querer disciplinar, ou mesmo acabar, com os chamados Credit Default Swaps" (CDS), como pretende Michel Barnier, o comissário europeu responsável pelos serviços financeiros, apenas porque são estes produtos financeiros que estão a valorizar com as reconhecidas debilidades da economia europeia, que se reflectem nos orçamentos e nas dívidas soberanas, é como pedir ao árbitro de uma partida de futebol que marque faltas apenas à equipa adversária.
Senhor comissário, e o dinheiro, fruto da riqueza produzida em cada país, que se abriga nos off shores, para daí fazer caminho em veículos ( de quatro rodas?) na especulação bolsista? Não está esse dinheiro (a sua falta) a prejudicar, devido à fuga de impostos, os orçamentos dos Estados e a diminuir a liquidez de cada país?
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