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O primeiro-ministro não explicou, o que é lamentável, mas toda a gente percebeu as razões que motivaram esta urgência toda. Por pressão de Angela Merk, que não pretende sacrificar o seu futuro político nas próximas eleições parlamentares (ela já perdeu as importantes eleições na Renânia Vestefália, devido à questão grega), os dirigentes europeus resolveram acalmar os mercados, obrigando, possilvemente sob a chantagem da expulsão da zona euro, os países mais problemáticos, onde se inclui Portugal . Ela sabe que, se a Alemanha tiver de desembolsar um euro que seja, através do fundo de 750 biliões de euros, criado há dias pela União Europeia, e que constitui apenas uma garantia para os empréstimos a contrair pelos estados membros, a sua reeleição, que se encontrava bem encaminhada, ficará irremediavelmente comprometida. A opinião pública alemã é convictamente contrária a qualquer ajuda financeira aos países da zona euro em dificuldades.
E para cumprir essa exigência, o governo português escolheu o modelo de intervenção clássico que lhe assegurasse uma maior rapidez e lhe reduzisse o grau de incerteza na obtenção dos resultados desejados, accionando um plano de aumento da receita, através dos impostos, e ignorando o corte das despesas do Estado.
Para a maioria dos economistas, este plano é irracional, pois não irá resolver o problema. A redução do défice vai conseguir-se à força (apenas é necessário controlar os danos colaterais do descontentamento, nem que seja à bastonada, se ele descambar em violência), mas, além dos efeitos perversos sobre a população (carestia de vida, mais desemprego, crescimento da pobreza em segmentos da classe média), salta à vista que a economia poderá ficar estrangulada, ao ponto de não conseguir gerar receitas suficientes para pagar as dívidas. Poder-se-à chegar a 2013 e verificar-se que Portugal se encontra num beco sem saída.
Em relação à dívida, estas medidas apresentam o mérito de reduzir momentâneamente a pressão dos mercados internacionais e facilitar a Portugal a obtenção de empréstimos de curto prazo, a juros razoáveis. No entanto, a dívida de longo prazo vai continuar a estar sob pressão, já que os bancos internacionais e os operadores já perceberam que o problema de Portugal reside na crónica falta de competitividade da sua economia. E, em relação a isto, o governo nada nos diz!
Bem pelo contrário. Em verdadeiro contra-ciclo, o governo insiste na realização das megalómanas obras públicas, que de imediato apenas servem para elevar o ego do primeiro-ministro, que gostará de ver a sua assinatura no cimento, e para salvaguardar os interesses das construtoras, das cimenteiras e, principalmente, da Lusoponte, que, através do monopólio da exploração das travessias sobre o Tejo, vê valorizar os seus activos, quer com o TGV, quer com o novo aeroporto. Nem o argumento da criação de novos empregos é convicente, já que eles, tal como aconteceu com os estádios de futebol, no Euro de 2004, são efémeros e recrutam essencialmente trabalhadores emigrantes. Se estas grandes obras avançarem, é o futuro que fica comprometido, pois poderá não haver dinheiro para as pagar. É por isso que eu não vou comprar um Mercedes!
http://economia.publico.pt/Noticia/economistas-pedem-reducao-mais-forte-da-despesa-do-estado_1437086
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