Na anterior legislatura, José Sócrates usou e abusou de uma manobra táctica, que até deu resultados. Em cada sessão do debate quinzenal na Assembleia da República, o primeiro ministro sacava do bolso uma ou duas medidas populares, daquelas que ninguém podia contestar, e obrigava a oposição a abandonar a sua própria agenda de perguntas e de intervenções e a envolver-se ingenuamente no terreno que convinha ao governo. A maioria absoluta, na rectaguarda, servia de respaldo tranquilizador. Agora já não é assim. Pela primeira vez, José Sócrates teve de submeter-se a contragosto à agenda da oposição, que o cercou com o caso das escutas da Face Oculta e procurou amarrá-lo às desastradas referências do seu ministro, Vieira da Silva, sobre a existência de um maquievélico plano de espionagem política ao governo.
Traído pela insegurança, a retórica de José Sócrates perdeu o rasgo e o brilho e o seu discurso não sobreviveu às contradições em que ele próprio anda enredado, ao ponto de ter perdido a compostura, quando comparou Paulo Portas a uma criança.
Acabou-se o mito da sua invencibilidade nas lides parlamentares, e, a partir daqui, ser-lhe-à muito difícil recuperar dos efeitos desastrosos desta derrota.
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