Tudo perdi
Tudo perdi na infância
e já não posso mais
desmemoriar-me num grito.
A infância soterrei
no fundo das noites
e agora, espada invisível,
me separa de tudo.
De mim recordo que exultava amando-te,
e eis-me perdido
no infinito das noites.
Um desespero que incessante aumenta
a vida não é mais,
presa no fundo da garganta,
que uma rocha de gritos.
Tudo perdi na infância
e já não posso mais
desmemoriar-me num grito.
A infância soterrei
no fundo das noites
e agora, espada invisível,
me separa de tudo.
De mim recordo que exultava amando-te,
e eis-me perdido
no infinito das noites.
Um desespero que incessante aumenta
a vida não é mais,
presa no fundo da garganta,
que uma rocha de gritos.
.
Giuseppe Ungaretti
*
mmm.*
O porto sepulto
Aí chega o poeta
e depois volta à luz com os seus cantos
e os dispersa.
Desta poesia
resta-me
um nada
de inexaurível segredo.
Giuseppe Ungaretti
Aí chega o poeta
e depois volta à luz com os seus cantos
e os dispersa.
Desta poesia
resta-me
um nada
de inexaurível segredo.
Giuseppe Ungaretti
***
Nota: Giuseppe Ungaretti foi o maior poeta italiano do século XX. Em França, enquanto estudante na Sorbonne, conviveu com os poetas vanguardistas Apollinaire, Gide e Valéry, integrando-se assim na grande revolução estética e literária que marcou toda a literatura ocidental, fazendo do primeiro quartel do século XX um dos períodos mais fecundos da literatura universal.
Depois de ter integrado, no seu país, a revista Lacerba (1913-1915), onde se adopta o figurino futurista, preconizando-se um lirismo puro, através da expressão fragmentária e imediata da ideia poética (posição idêntica ao expressionismo alemão e ao “imagismo” anglo-saxónico), Ungaretti publica em 1916 o livro de poemas “Il Porto Sepolto”, onde figuram os seus mais belos poemas, muito deles escritos durante o período em que serviu como soldado o exército do seu país na Primeira Guerra Mundial. Jorge de Sena, que traduziu muita da sua poesia, caracteriza assim esta obra: “colectânea cujos fragmentarismo, concisão, essencialidade, despojamento linguístico, foram uma revolução poética que colocou o autor à frente do que, nas décadas seguintes, se chamaria, na Itália, poesia “hermética”. Os dois poemas, seleccionados para este espaço, reflectem essas características.
Alexandre de Castro
Depois de ter integrado, no seu país, a revista Lacerba (1913-1915), onde se adopta o figurino futurista, preconizando-se um lirismo puro, através da expressão fragmentária e imediata da ideia poética (posição idêntica ao expressionismo alemão e ao “imagismo” anglo-saxónico), Ungaretti publica em 1916 o livro de poemas “Il Porto Sepolto”, onde figuram os seus mais belos poemas, muito deles escritos durante o período em que serviu como soldado o exército do seu país na Primeira Guerra Mundial. Jorge de Sena, que traduziu muita da sua poesia, caracteriza assim esta obra: “colectânea cujos fragmentarismo, concisão, essencialidade, despojamento linguístico, foram uma revolução poética que colocou o autor à frente do que, nas décadas seguintes, se chamaria, na Itália, poesia “hermética”. Os dois poemas, seleccionados para este espaço, reflectem essas características.
Alexandre de Castro
28/5/2007
1 comentário:
Excelente.
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