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quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Notas do meu rodapé: Sindicatos- A luta de David contra Golias...

Tenho uma mosca na sopa

A dolorosa verdade é que o futuro de Portugal
está hoje, quase todo, em Bruxelas, Berlim e nos
animal spirits dos mercados. A greve foi grandiosa,
mas gigantesco é tudo aquilo que fica por fazer.
Viriato Soromenho Marques
Diário de Notícias
***
Os sindicatos, tal como se encontram organizados em cada um dos países, já não conseguem responder às solicitações dos trabalhadores que representam. E isto não deriva, naturalmente, da responsabilidade dos milhares de sindicalistas que, empenhadamente, e até com prejuízos ao nível das suas carreiras profissionais, principalmente os oriundos do sector privado, trabalham exaustivamente em prol dos seus colegas e camaradas. O problema situa-se a um outro nível, e que tem a ver com as grandes mudanças ocorridas a nível mundial, depois da queda dos regimes comunistas e da renovada ofensiva do capitalismo internacional que, através do consenso de Washington, adoptou a cartilha ideológica do neo-liberalismo, puro e duro. Afastada a ameaça do contágio do comunismo, o único e verdadeiro inimigo do sistema capitalista, os EUA e os seus aliados mais íntimos e poderosos, reorganizaram a economia mundial, criando, através da globalização, uma cadeia de dependências políticas, económicas, financeiras e culturais na maioria dos países do mundo, a tal ponto, que, cada um deles, já se encontra impossibilitado de exercer autonomamente a sua total independência e soberania. A actual crise internacional, que não beliscou minimamente o capital financeiro (os verdadeiros mandantes dos governos submetidos à sua alçada), mostra à evidência como funciona essa tenebrosa rede. Cada governo nacional não passa de uma agência intermediária das várias organizações que o capitalismo criou para melhor explorar o mundo do trabalho.
Enquanto os centros de decisão do grande capital financeiro funcionam numa estrutura globalizada e camufladamente hierarquizada, os sindicatos apenas podem actuar no seu respectivo âmbito nacional. É uma luta travada com armas desiguais. É a versão moderna da luta de David contra Golias, só que o David actual (os sindicatos) não conseguem imprimir ao movimento da funda a força suficiente para abater o monstro. Mesmo ao nível da União Europeia, verifica-se uma enorme inoperência das organizações que aglutinam as centrais sindicais dos países membros. Ainda está por ocorrer uma iniciativa de massas que mobilize e envolva simultâneamente os trabalhadores de toda a União Europeia. É certo que esta lacuna também se deve à grande (e para já insanável) divisão do movimento sindical internacional. Os partidos socialistas e os partidos socais-democratas, que no momento actual já não conseguem esconder a sua ligação ao capital financeiro, não se esqueceram de criar as suas próprias estruturas sindicais, com objectivos claramente divisionistas, e enquanto os seus trabalhadores não forçarem a reorientação política correcta será impossível criar um movimento sindical único e global, que possa fazer frente ao sistema capitalista global.
A actual crise, que é endémica e estrutural, pois deriva das disfuncionalidades introduzidas pelo neo-liberalismo, talvez venha a possibilitar tendencialmente uma maior e necessária internacionalização do movimento sindical. É urgente que se caminhe nesse sentido, mesmo que todos tenham que ceder naquilo que é acessório, para se garantir o que é fundamental.
Isto não obsta, antes reforça, que, a nível nacional, se aprofunde, através da luta, a influência dos sindicatos e das suas centrais perante os governos e perante o patronato.

3 comentários:

Maria José Meireles disse...

Tenho aprendido, com os meus alunos, a sobreviver em condições adversas!...

Anónimo disse...

Qual é a situação real, concreta, vivida hoje em Portugal?

De um lado, um exército de dezenas de milhar que mais não faz que estudar, analisar, propor, divulgar, propagandear, praticar, acções e medidas tendentes a assegurar aos grandes grupos económicos a reprodução do capital e a obtenção do lucro máximo com a máxima exploração. Actuam dentro e fora das empresas. Na comunicação social e nos órgãos de poder. Em alguns sindicatos amigos e colaborantes. Para isso são pagos, alguns mesmo muito bem pagos. Muitos nem têm a consciência plena das consequências dos seus actos cumprindo o objectivo de dividir para reinar.

Maria José Meireles disse...

Parabéns Anónimo...