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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Um Poema ao Acaso: recurso - Miguel Pires Cabral

recurso

Venho por este meio recorrer
ao âmbito natural das coisas.
Ao sentimento frio que nos recomeça
nocturno, desde o vazio da noite – nas ruas.
Um ou outro sorriso que gastamos
junto ao balcão de um bar
ou outro cenário qualquer.

E nunca é tarde demais para distrair o medo
uma mesma direcção, uma mesma partilha,
ao que chamamos de ânsia ou modo vida.

É urgente ditarmos as regras ao desalinho
é urgente cobrar às palavras uma ordem natural
das coisas, aceita-las como se fossem só nossas.
Como uma mancha escrita que deixamos presa
no papel, um recurso cravado pela nossa passagem.

Venho pois, por este meio recorrer,
– em folha azul de 25 linhas –
a uma jurisprudência que em boa verdade
não existe. A um reconhecimento
que em boa fé não procuro, diria em suma que:
procuro o consentimento que existe
entre o lume cruzado dos teus olhos.

Venho recorrer de um mesmo limite
que nos (de)fere a cada momento.
Ao esquecimento que se apaga junto
ao vazio de um copo, ao abandono
lento que nos sobra – neste recurso
perpetrado – junto ao balcão.

Miguel Pires Cabral
http://barbituricodaalma.blogspot.com/2010/11/recurso.html

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