Aprovação do OE não chegou para acalmar os mercados, mas já mudou o discurso do Governo
Chegou ontem ao fim o processo de aprovação
Chegou ontem ao fim o processo de aprovação
de um dos orçamentos mais duros das últimas
décadas. Nos mercados, as taxas de juro não
baixaram.
... No fim de um processo que durou quase dois
... No fim de um processo que durou quase dois
meses e que se dizia decisivo para recuperar
a credibilidade do país junto dos investidores
internacionais, os indicadores dos mercados
mostram que Portugal está agora numa
posição de maior fragilidade do que quando tudo
começou e a ameaça de um chumbo orçamental
era ainda muito forte.
... Há dois meses, quando a pressão dos
... Há dois meses, quando a pressão dos
mercados sobre Portugal forçava o Governo a
apresentar o seu plano de austeridade mais
ousado, as taxas estavam em 6,637 por cento.
Agora, estão nos 7,168 por cento.
... A pressão que (os mercados) continuam a
... A pressão que (os mercados) continuam a
fazer sobre Portugal tem muito mais a ver
com a perspectiva que actualmente existe de
uma zona euro em que os países periféricos
- Irlanda, Portugal, Grécia e Espanha -
revelam problemas estruturais graves nas
suas economias e finanças públicas e os países
do centro - principalmente a Alemanha e a
França - dão sinais de hesitação na concessão
de ajuda. E nada, nem mesmo um OE que
inclui medidas como o corte dos salários dos
funcionários públicos, o congelamento das
pensões ou a subida da carga fiscal, parece servir
para melhorar as expectativas.
PÚBLICO
***
Esta descrença dos mercados financeiros não me surpreendeu mesmo nada, pois desde sempre tenho afirmado que o problema de Portugal não é apenas o descalabro das suas finanças públicas, mas, principalmente, o da sua economia, que não dá (nem poderá dar nos próximos tempos) sinais de recuperação sustentada, pois a eficácia da iniciativa privada, entre nós, é uma pura ficção. O salazarismo criou uma classe empresarial ociosa, encheu-a de vícios com as leis proteccionistas, que não permitiram a sua evolução em mercado aberto e internacionalizado. As privatizações, iniciadas pelo socialista Mário Soares e prosseguidas por Cavaco Silva, criaram o parasitismo, já que as maiores empresas (EDP, Portugal Telecom e outras), ficaram a funcionar em regime de quase monopólio. Não é necessário inovar muito para engrossar os lucros das grandes empresas e os dividendos dos seus accionistas , pois basta copiar os modelos de outros países e importar a tecnologia, como se a modernização se resumisse a isto. As pequenas e as médias empresas, que têm um peso enorme no tecido empresarial do país, debatem-se com um crónico défice de cultura empresarial e de massa crítica, ao qual se junta a falta de formação profissional dos trabalhadores, e não conseguem resolver, através de parcerias estratégicas com outras empresas colaterais e com as empresas a montante e a jusante, o problema da ausência do efeito de escala, para serem competitivas no mercado internacional. E isto prende-se também com a cultura individualista que foi inculcada nos cidadãos, nas famílias, nas escolas e nas empresas. Cada um quer plantar couves no seu pequeno quintal. E os nossos governantes, os do PS e do PSD, nos seus planos, nunca cuidaram de enfrentar estas distorções, implementando e favorecendo políticas sérias e bem estruturadas, que promovessem o associativismo empresarial e, por outro lado, criassem uma rede de escolas profissionais, de rigor pedagógico assegurado, com capacidade de flexibilizarem os seus currículos, de acordo com a evolução tecnológica, e sem a preocupação de fomentarem-se falsos elitismos, com a adopção de equivalências curriculares absurdas, nas quais ninguém acredita. Em resumo: os mercados financeiros não acreditam no país ignorante, que não sabe organizar-se.
O próprio Orçamento de Estado de 2011 acentuou essa dúvida nos mercados. É um orçamento que só olha para o défice e não olha para a economia. E, perdida a encenação e a miragem do orçamento, não vai ser a dança folclórica de Sócrates, nas próximas reuniões com os empresários das empresas exportadoras, que vai fazer crescer a competitividade. Eu até me atrevo a dizer que, para os mercados financeiros, Sócrates é parte do problema e não a sua solução. Tal como eu já aqui afirmei, os agentes dos mercados financeiros internacionais também devem estar a pensar como é que um país pode inverter a sua situação económica com um primeiro-ministro que passou metade do seu anterior mandato a defender-se das suspeitas de corrupção, da suspeita sobre a validade da sua licenciatura, dos ataques de uma insignificante jornalista, a propósito do processo Face Oculta, e a outra metade em declarada campanha eleitoral, chegando até ao ponto, por motivos eleitoralistas, de ocultar os valores negativos do terceiro trimestre do ano de 2009, que já anunciavam a crise actual.
O foguetório do orçamento chegou ao fim, com a montanha a parir um rato. Outro festival vai começar para enganar o Zé povinho.
http://economia.publico.pt/Noticia/aprovacao-do-oe-nao-chegou-para-acalmar-os-mercados-mas-ja-mudou-o-discurso-do-governo_1468369
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