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domingo, 28 de junho de 2009

Guiné-Bissau: Um Estado falhado?


Guiné-Bissau: Um Estado falhado?

Com umas Forças Armadas divididas e instáveis, um Estado fraco e uma sociedade civil sem poder económico e sem capacidade de intervenção política, a Guiné-Bissau transformou-se num pasto do narcotráfico, que, por sua vez, através da corrupção, mais aprofunda aquelas fragilidades.
O Estado desejado por Amílcar Cabral, o mais brilhante e clarividente dirigente africano, durante o período da descolonização do continente, está muito longe da sua concretização. Primeiro, foi a cisão com Cabo-Verde, em 1980, cuja união, que se justificava durante a guerra pela independência, não viesse a ter, posteriormente, muito sentido, tais são as diferenças étnicas e culturais entre estas duas ex-colónias portuguesas. Depois, após a independência, veio a instabilidade política, derivada de um conjunto vasto de factores, comuns a todos os países africanos que viveram durante séculos sob o jugo apertado do colonialismo, que pouco ou nada lhes deixou, a não ser o património comum da língua e algumas infra-estruturas. Sem quadros técnicos que suportassem o aparelho de Estado e a economia, a política passou por um período de infantilismo, com os dirigentes a preocupar-se mais com o seu poder pessoal, do qual retiravam grandes proveitos económicos, do que com o progresso das populações, mergulhadas na miséria, na doença e na ignorância.
A Guiné-Bissau ainda não saiu desse estadio. Desde a independência, os golpes e contra-golpes e os assassinatos políticos sucederam-se, a corrupção fez a lei, as Forças Armadas deixaram de responder ao poder político e dividiram-se perigosamente. Talvez por isto e, também, por causa disto, o narcotráfico da cocaína assentou arraiais, arruinando, na sua caminhada infernal, as consciências e comprometendo a sustentabilidade de uma economia débil.
Segundo a maioria dos observadores, as eleições presidenciais, que ocorrem hoje, não vão resolver estes problemas. Quando muito, poderão trazer alguma estabilidade provisória. Nada mais.

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