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terça-feira, 16 de junho de 2009

Diário de um professor e de uma aluna (1)

a António Marques e Catarina Amaro (PÚBLICO)

Numa iniciativa original, o PÚBLICO vai publicar diariamente, durante as duas próximas semanas, as impressões de um professor de Artes Visuais e de uma aluna da área de Humanidades, sobre as respectivas vivências e expectativas em relação aos exames nacionais do 12º ano, que hoje se iniciaram com a prova de Português. Iremos acompanhá-los com atenção.

No seu primeiro depoimento, António Marques destacou a especificidade da sua área de docência, não aplicável às outras áreas, em que o aluno pode ser motivado e aliciado, no processo da aprendizagem, para um projecto criativo de descoberta, a nível individual, o que desencadeia outro entusiasmo e envolvimento. E isto, segundo este professor, que considera imprescindíveis as avaliações anuais padronizadas e universais, não é mensurável neste tipo de exames.

Na minha modesta opinião, penso que uma coisa não invalida a outra, já que estes exames nacionais se destinam a avaliar os resultados e não os processos de aprendizagem. Se o aluno aproveitou bem o tal projecto individual, criativo e motivador, com que o professor, com todo o mérito e competência, conseguiu seduzir o aluno, certamente que isso irá aparecer reflectido na maior parte dos casos, nos resultados finais.

A aluna Catarina Amaro escreveu um texto muito mais intimista. A sua grande preocupação reside nas opções que terá de fazer em relação ao curso que irá escolher. Apavora-a a ideia de tirar um curso profissional com poucas saídas profissionais e ter de se resignar, acabado o curso, a ter de trabalhar na caixa de um supermercado.

É legítima a preocupação da Catarina, preocupação esta de capital importância, que aflige a maioria dos alunos do ensino secundário, e à qual o Ministério da Educação não tem dado uma solução eficaz, remetendo o problema da escolha para a intuição de cada um e para o seu foro pessoal. Desta forma, o ministério está a lançar os alunos e as suas famílias para os braços de profissionais, alguns sem preparação adequada, que se dedicam empiricamente a fazer orientação profissional, baseando-se numa curta e redutora entrevista de confessionário e nas notas obtidas ao longo do percurso escolar. Normalmente, estes orientadores profissionais actuam em função das expectativas dos pais e dos alunos.

Nas próprias escolas, deveriam existir psicólogos, bem preparados através pós-graduações qualificadas e certificadas e devidamente enquadrados numa carreira profissional, que ao longo dos anos, e recebendo o contributo dos respectivos professores, traçassem continuamente o perfil psico-profissional dos alunos e lhes corrigissem atempadamente as ideias fantasiosas, assimiladas ao longo do tempo, em relação a algumas profissões, principalmente aquelas que, por serem muito sedutoras, preenchem o imaginário de um qualquer jovem e vão ao encontro dos desejos dos pais.

http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1386588


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