ERGO
UM PEIXE TRISTE E UMA CASA
ergo
um peixe triste e uma casa para os amigos
que
ardem na melancolia da minha infância e
falamos
de espelhos e fogo tantas vezes
trazendo
o mar para dentro das nossas bocas
os
amigos procuram o calor azul num vidro quente
encerrados
em seu próprio corpo de luar e ouro
mergulham
durante a noite demoradamente
sob
o olhar atento dos espelhos de guelras lilases
são
da cor do mar os lábios e as suas vozes de vento
que
deus quebrou há muito tempo para criar deuses
trazemos
então para cima do mundo o luar
e
a cinza
gritando
lou
ca
men
te
o
lume dos nomes
dizemos
búzios
algas sal
casas
ou
outros sons de violinos aquáticos
incandescentes
pérolas de aves azuis
peixes
de neve
nas
frias
águas
guardam-nos
os
espelhos verdes
maria azenha
2005,fev,lx
Nota: É de espelhos e fogo
que este poema fala. Espelhos verdes e outros de guelras lilases. As aves são
azuis (incandescentes pérolas), assim como é azul o calor do vidro quente. E a
cor do mar há-de também ser azul, nesta policromia poética, engalanada de
metáforas em cada verso, e que, de tão expressivas, permitem descontinuar o
texto, no seu sentido literal. A ação resume-se a uma casa junto à praia, onde
se reúnem amigos de infância. O resto é o fogo-de-artifício das palavras, com a
sua sonoridade própria, a esgotar o encantamento.
Maria
Azenha colabora neste blogue, com um poema seu, todas as quintas feiras.
1 comentário:
Belíssimo!
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