Amabilidade de Campos de Sousa
**
Este problema, o do inflacionamento dos
preços ao consumidor, por parte dos bancos e das grandes empresas de bens e
serviços, que cartelizaram a economia portuguesa, não é de agora. É
uma história já antiga e que é sucedânea à do protecionismo dos
tempos de Salazar. Lembro-me de uma crónica de António Barreto, no PÚBLICO, há
uns quinze ou vinte anos, em que ele se insurgia contra a diferença significativa de
preços, praticados pela Telecom, em relação aos preços praticados na Grã-Bretanha. Dizia
ele que as chamadas telefónicas de Londres para Lisboa ficavam mais baratas do
que as efetuadas em sentido contrário, de Lisboa para Londres. O mesmo se
passava com as tarifas das transportadoras aéreas, ficando mais barato comprar
em Londres, através de um telefonema, uma viagem aérea de Lisboa para aquela
cidade.
Na altura, e prolongando a análise para outros
setores da economia, procedi à seguinte conclusão: Por falta de escala do
mercado português, quer em número de consumidores, quer pelo seu inferior poder
de compra, estas grandes empresas, que não perderam os hábitos da sua característica
monopolista, procuram, através de um injusto aumento de preços, igualar o nível
de lucros (em valores absolutos) das suas congéneres dos países mais ricos, elevando
assim a respetiva taxa daqueles lucros, para valores acima da média obtida pelo
conjunto das empresas estrangeiras do respetivo setor, o que é um autêntico
escândalo. Para acelerar o retorno dos capitais investidos, em tempo curto,
para que, depois, a margem de lucro constitua valor acrescentado a esses mesmos
investimentos, a coorte de capitalistas portugueses (milhares de grandes
acionistas de bancos e de grandes empresas, privatizadas em tempos pelo PSD e
pelo PS) decide, através dos seus gestores, praticar preços desproporcionais e
desproporcionados para os seus bens e serviços. Trata-se de um roubo à carteira
dos portugueses e de um prejuízo para a economia portuguesa, pois o dinheiro
cobrado a mais pelos bancos e por estas grandes empresas vai faltar, através do
fator consumo, para outros setores e para outras atividades (está por estudar
com precisão este efeito nefasto e a sua verdadeira ação predadora). Acresce
ainda que a maior parte dos lucros dos acionistas dos bancos e das grandes
empresas, escoa-se, por vias complexas, para os paraísos fiscais, à procura de
maiores rendibilidades.
A falta de competitividade da economia
portuguesa também passa por este estrangulamento estrutural.
Sem comentários:
Enviar um comentário