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segunda-feira, 15 de abril de 2013

New York Times usa exemplo de Portugal para criticar "medicina amarga" da austeridade


O conselho editorial do norte-americano New York Times escreve hoje que a "medicina amarga" da austeridade está a matar o doente, usando o exemplo de Portugal para defender a emissão de títulos de dívida apoiados pela zona euro.
"Há mais de dois anos que os líderes europeus têm imposto um 'cocktail' de austeridade orçamental e de reformas estruturais em países debilitados como Portugal, Espanha e Itália, prometendo que isso será o tónico para curar as maleitas económicas e financeiras, mas todas as provas mostram que estes remédios amargos estão a matar o paciente", escreve o Conselho Editorial do jornal norte-americano New York Times, um dos mais vendidos nos Estados Unidos da América.
O artigo de opinião explica que o principal problema de as medidas de austeridade não estarem já a ter o efeito pretendido - crescimento económico - é, para além do aumento do desemprego, a criação de um descontentamento popular que favorece grupos como o Movimento Cinco Estrelas, em Itália.
"O verdadeiro perigo para a Europa é que movimentos como esse aumentem e que os eleitores e os decisores vejam cada vez menos vantagens em permanecer no euro. Se os países começam a sair da moeda única, isso causaria pânico generalizado no Continente e milhares de milhões de dólares em perdas para os governos, os bancos e os investidores na Alemanha e noutros países ricos europeus, já para não falar no resto do mundo", escreve o jornal, sublinhando que "se os líderes europeus deixaram essas forças políticas ganharem força, toda a gente no Continente, e não apenas os portugueses ou os italianos, ficarão pior".
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O modelo congeminado pelos dirigentes políticos europeus para garantir o retorno, com dinheiro proveniente do trabalho, da dívida estimulada pelo capital financeiro, com dinheiro proveniente da especulação bolsista, aos países periféricos, está a perder capacidade de afirmação em vastos setores da opinião pública, dos meios académicos e da comunicação social. O que, só para alguns, há uns dois ou três anos atrás, era evidente, hoje, perante os sucessivos fracassos dos eufemísticos programas de ajustamento orçamental, a realidade deixou de ser avaliada pelas tintas cor-de-rosa dos neoliberais, que apenas olham para a vertente financeira e para os mercados, esquecendo a vertente social da economia e da política, que devem estar ao serviço do bem comum, o que não acontece atualmente em Portugal e na Europa, em que o Estado está ao serviço das oligarquias económicas e financeiras.
Provocar o empobrecimento das populações, arrasar a economia e os serviços de políticas sociais, liquidar postos de trabalho e não criar emprego para a juventude, para, depois, segundo afirmavam os perversos mentores deste maquiavélico esquema de saque, promover o crescimento económico, através do aumento das exportações, é, no mínimo, bizarro. É um verdadeiro paradoxo. Permitam-me a excessiva imagem: é como matar o doente, antes de ele morrer.
A austeridade tem os dias contados. Se a mudança não ocorrer nas instituições e nos governos europeus, graves acontecimentos poderão ocorrer na Europa e no mundo. A História não dorme, nem é escrita apenas nas chancelarias.  

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