O
conselho editorial do norte-americano New York Times escreve hoje que a
"medicina amarga" da austeridade está a matar o doente, usando o
exemplo de Portugal para defender a emissão de títulos de dívida apoiados pela
zona euro.
"Há
mais de dois anos que os líderes europeus têm imposto um 'cocktail' de
austeridade orçamental e de reformas estruturais em países debilitados como
Portugal, Espanha e Itália, prometendo que isso será o tónico para curar as
maleitas económicas e financeiras, mas todas as provas mostram que estes
remédios amargos estão a matar o paciente", escreve o Conselho Editorial
do jornal norte-americano New York Times, um dos mais vendidos nos Estados
Unidos da América.
O
artigo de opinião explica que o principal problema de as medidas de austeridade
não estarem já a ter o efeito pretendido - crescimento económico - é, para além
do aumento do desemprego, a criação de um descontentamento popular que favorece
grupos como o Movimento Cinco Estrelas, em Itália.
"O
verdadeiro perigo para a Europa é que movimentos como esse aumentem e que os
eleitores e os decisores vejam cada vez menos vantagens em permanecer no euro.
Se os países começam a sair da moeda única, isso causaria pânico generalizado
no Continente e milhares de milhões de dólares em perdas para os governos, os
bancos e os investidores na Alemanha e noutros países ricos europeus, já para
não falar no resto do mundo", escreve o jornal, sublinhando que "se
os líderes europeus deixaram essas forças políticas ganharem força, toda a
gente no Continente, e não apenas os portugueses ou os italianos, ficarão
pior".
***«»***
O
modelo congeminado pelos dirigentes políticos europeus para garantir o
retorno, com dinheiro proveniente do trabalho, da dívida estimulada pelo
capital financeiro, com dinheiro proveniente da especulação bolsista, aos
países periféricos, está a perder capacidade de afirmação em vastos setores da
opinião pública, dos meios académicos e da comunicação social. O que, só para
alguns, há uns dois ou três anos atrás, era evidente, hoje, perante os
sucessivos fracassos dos eufemísticos programas de ajustamento orçamental, a
realidade deixou de ser avaliada pelas tintas cor-de-rosa dos neoliberais, que
apenas olham para a vertente financeira e para os mercados, esquecendo a
vertente social da economia e da política, que devem estar ao serviço do bem
comum, o que não acontece atualmente em Portugal e na Europa, em que o Estado está ao serviço das oligarquias económicas e financeiras.
Provocar
o empobrecimento das populações, arrasar a economia e os serviços de políticas
sociais, liquidar postos de trabalho e não criar emprego para a juventude, para, depois, segundo
afirmavam os perversos mentores deste maquiavélico esquema de saque, promover o
crescimento económico, através do aumento das exportações, é, no mínimo, bizarro.
É um verdadeiro paradoxo. Permitam-me
a excessiva imagem: é como matar o doente, antes de ele morrer.
A
austeridade tem os dias contados. Se a mudança não ocorrer nas instituições e
nos governos europeus, graves acontecimentos poderão ocorrer na Europa e no
mundo. A História não dorme, nem é escrita apenas nas chancelarias.
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