“Eu gosto muito da minha escola. As carteiras estão quase todas vazias e a
minha escola vai fechar. A professora disse que iam fazer aqui uma casa
mortuária porque há mais mortos que meninos. Eu não gosto de mortos, só nos
filmes e nos desenhos animados. Eu e os outros três meninos vamos para uma
escola nova chamada agrupamento escolar que tem um autocarro que começa a dar
volta ao concelho às sete da manhã para apanhar todos os meninos do tal
agrupamento. É como quando se recolhiam as cabras para a vezeira ir pr’ó monte,
disse a minha avó que só fala tipo antigamente. Eu não me importo. Depois durmo
no agrupamento. Quando o agrupamento tiver também só três ou quatro meninos, o
autocarro leva-nos para outro agrupamento onde estaremos quatro dias da semana em
camaratas porque é muito longe para vir a casa. Quando for grande, o
agrupamento já deve ser fora de Portugal como o agrupamento onde estão os meus
pais e quase todos os adultos da minha terra. Chamam-se emigrantes e os nossos
governantes dizem que é bom emigrar. Porque é que os nossos governantes não
saem do agrupamento deles para emigrar? Conheciam terras novas, outras culturas
com internet, outros governantes fixes e assim. Pronto.”
* In artigo de opinião "Decadência" da
autoria do geógrafo Álvaro Domingues
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