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terça-feira, 27 de maio de 2014

Os socialistas na Península Ibérica


Do lado de lá da fronteira o terramoto político. Por cá a liderança de Seguro treme.
O pior resultado da história do PSOE, com 23% dos votos, levou Alfredo Pérez Rubalcaba a atirar a toalha ao chão. O líder dos socialistas espanhóis foi a primeira baixa das eleições europeias, tendo no imediato convocado um congresso extraordinário, no qual não se candidata. Além de perder, Rubalcaba deixou o PP conseguir a proeza de ser um dos poucos partidos no poder na Europa a ficar à frente nas eleições.
E PSOE perdeu num ambiente em que até houve uma subida generalizada do voto de esquerda em Espanha que não soube capitalizar. Prova disso foi a subida meteórica do partido Podemos, que nasceu há apenas três meses e que conseguiu 7,94% dos votos, alguns dos quais o chamado "voto 15-M". Rubalcaba ensaiou a seguinte explicação para o desastre eleitoral: “Há pessoas que se lembram que isto começou quando nós estávamos no Governo.”
Por cá, os socialistas estão numa posição bastante diferente, porque ganharam as eleições. Mas a vitória foi magra e já se volta a ouvir vozes a pedir António Costa para o lugar de António José Seguro. Ontem, Carlos César, Ferro Rodrigues e João Galamba alinharam no discurso de “soube a pouco”. E já se advinha que na reunião da comissão nacional do PS este sábado no Vimeiro se ouvirão vozes a contestar a actual liderança.
Foi o próprio Seguro que se colocou nesta posição de ter de responder por uma vitória como se de uma derrota se tratasse, ao elevar demasiado a fasquia para estas eleições. Transformou as europeias, em que já se sabia que a abstenção seria muito elevada, em primárias para as legislativas e foi o próprio que levou a sufrágio o seu programa eleitoral para 2015. E a vitória por uma escassa margem não lhe dá legitimidade para reclamar eleições antecipadas. E vai obrigá-lo, no Vimeiro, a explicar aos socialistas a sua estratégia para chegar a 2015 e se distanciar dos partidos que actualmente apoiam o Governo.
PÚBLICO de 26 Maio 2014 [Direção Editorial]

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Quando um partido trai os seus princípios fundadores ou a sua matriz ideológica (se a tiver) e defrauda as expectativas dos seus militantes e simpatizantes, ele acaba por se anular. Nestas eleições europeias de 2014, o PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol) e o PS pagaram caro o custo da ambiguidade e do alinhamento (no caso do PS, ainda de uma forma embrionária) com as teses radicais do europeísmo dominante, imposto por Berlim e Bruxelas. O PSOE, em nome da necessidade do entendimento para enfrentar a crise, tal como aquele entendimento que Cavaco Silva pede para Portugal aos partidos do arco da governação, apoiou claramente o governo de direita de Espanha. António José Seguro, que também quer ser um bom aluno europeu, não conseguiu esconder que também quer percorrer esse mesmo caminho. Ambos os partidos foram perdedores. No caso do PSOE, o seu líder viu-se obrigado a demitir-se, tal foi o rombo eleitoral que sofreu. O PS de Seguro ganhou aritmeticamente as eleições, com uma vergonhosa diferença mínima, em relação à coligação PSD/CDS, mas perdeu-as politicamente, ao ponto do seu líder ficar sem margem de manobra para apresentar uma moção de censura ao governo e exigir eleições antecipadas. O desânimo nas hostes socialistas foi enorme, pois foi o sentimento de derrota (não assumida) que prevaleceu.
Foi o fraco crescimento do PS que evitou a ocorrência de uma grande derrota da coligação PSD /CDS. Tivesse o PS, ao longo da legislatura, assumido uma oposição credível, fundamentada, bem sustentada e bem explicitada, em relação à política agressiva da Alemanha, e o seu resultado seria outro, bem melhor, o que tornaria humilhante o resultado obtido pela coligação PSD/CDS.
Assim, pode dizer-se que os portugueses castigaram os partidos do arco da traição. Não se esperava outra coisa.

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