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quarta-feira, 21 de maio de 2014

Ordem dos Médicos: "Ministério da Saúde tem a cabeça pesada com as medidas do SNS"


Em declarações à TSF, José Manuel Silva, bastonário da Ordem dos Médicos, admite cortar relações com o Ministério da Saúde, caso a tutela não altere a proposta do Código de Ética.
“[O código] é inaceitável porque põe em causa a defesa da saúde e dos doentes. Iremos analisar esta decisão e a nossa resposta dependerá do que até lá o Ministério da Saúde decidir fazer com este código não ético que é um regulamento de mordaça sobre o Serviço Nacional da Saúde”, afirma o bastonário.
Entre as muitas medidas contestadas no projeto do Código de Ética, encontram-se a proibição de denunciar falhas no Serviço Nacional da Saúde ou situações que possam colocar em causa a imagem da instituição.
Para José Manuel Silva cabe ao Governo travar este processo. O responsável não se coibiu de lançar também duras críticas ao ministério tutelado por Paulo Macedo.
“O Ministério da Saúde tem a cabeça pesada sobre as medidas relativamente ao SNS porque sabe que têm posto em causa a sua qualidade”, disse.
Recorde-se que ontem a secção sul da Ordem dos Médicos emitiu um comunicado no qual repudiava a intenção do Governo de impedir os profissionais de saúde de falarem publicamente sobre o que se passa nos seus locais de trabalho e prometeu apoiar quem denuncie situações prejudiciais para os doentes.
Notícias ao Minuto

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Não tenhamos ilusões. Existe um plano do governo para reduzir o Serviço Nacional de Saúde à condição de "serviços mínimos", envolvendo ações concertadas para desafetar meios, encerrar ou fundir unidades de saúde, limitar a prescrição de meios auxiliares de diagnóstico e de medicamentos, impedir o acesso à carreira de novos profissionais de saúde e, progressivamente, ir cedendo aos privados os setores mais lucrativos.
Tudo isto já não é novidade, pois já vem sendo aplicado paulatinamente por este governo, desde o início da legislatura. Só que, agora, com o aperto orçamental do período pós-troika, que continua a estar presente nas nossas vidas, e com o fim da legislatura à vista, é necessário acelerar o processo, para que, no futuro, a destruição do SNS seja irreversível e “irrevogável”. Mas, para não criar alarme social, o governo precisa de silenciar a voz dos profissionais de saúde, cujas denúncias e cujos protestos constituem uma ameaça permanente para a prossecução daqueles sinistros objetivos.
Os profissionais de saúde estão a fazer o seu trabalho, e bem, nomeadamente a Ordem dos Médicos, através do seu bastonário, e os sindicatos dos médicos, federados na FNAM. Agora, chegou o momento dos utentes, em seu proveito, fazerem também o seu trabalho, recusando ativamente o fatalismo com que as medidas restritivas do governo são sempre apresentadas. O trabalho das comissões de utentes de saúde deve ser energicamente reativado e novas comissões terão de ser criadas, onde elas ainda não existam. Mas, para tal, é necessário o empenhamento de todos nós, os utentes.

2 comentários:

Ana disse...

Essencialmente aos utentes cabe denunciar situações que o penalizem. Mas, infelizmente, muita gente ainda tem medo de falar. Pois têm receio de retaliações. Já há muito tempo que os cortes vêm a ser efetuados. Muitos doentes, já têm que levar material comprado à custa deles para serem realizados os tratamentos nos centros de saúde e meio Hospitalar. Os exames também já há muito que estão a sofrer cortes. Eu por exames que precisavam de ir para fora, deitaram o sangue fora....quando os confrontei o porquê de ao final de 7 meses ainda não ter resultados. Diziam que não tinham chegado. Como felizmente, não sou burra, pesquisei na net os endereços do Laboratório em questão, e uma médica disse-me perentoriamente que o sangue nunca lá chegou. Confrontei novamente o Hospital, que me deu a mesma resposta. De imediato disse-lhes que nunca chegaria. Perguntaram-me porque dizia isso, e ficaram aflitos quando contei o que me tinha dito o laboratório. Deram uma desculpa esfarrapada. Meti um processo. Passados dias, a administração escreveu-me a pedir desculpa pelo sucedido, e que agradeciam ter alertado para o caso. Disse que não aceitava as desculpas. A vida era minha. E já tinha quase um ano de angústia em cima dos meus ombros e o não ter iniciado tratamentos adequados à doença e a minha vida em risco. Novo processo. Já lá vai um ano e nem resposta...e tive que arranjar maneira de ser assistida a 200km da residência...e não tenho problema em referir...porque consegui uma "cunha" para lá entrar. Mas, ainda eu consegui me mexer...e quem não sabe???? E por aqui fico....tanto teria para falar...

Alexandre de Castro disse...

Ana: Esse é o drama da grande maioria dos doentes do SNS, que, por medo e desconhecimento, não se impõem às mais diferentes arbitrariedades. Recentemente, também tive de me impôr ao meu novo Médico de Família, para exigir os meios auxiliares de diagnóst que a minha idade e a minha história clínica exigiam. Argumentei com conhecimento de causa, porque não sou leigo na matéria, e ele cedeu. Os diretores clínicos, verdadeiros comissários políticos do Exército, apertam e ameaçam veladamente o pessoal médico. Isto é uma vergonha!...