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domingo, 25 de maio de 2014

O regresso do eixo franco-alemão


Merkel e Sarkozy tentam não perder o eleitorado, nem que seja à custa de perder o resto da Europa.
Foi a 18 de Outubro de 2010 que se dissiparam as dúvidas. Até então pensava-se (ou pelo menos fingia-se com algum pudor) que na Europa as decisões eram tomadas de uma forma democrática, colegial e em que todos os países teriam algo a dizer sobre as decisões que afectam todos. Nesse dia, Herman Van Rompuy tinha acabado de anunciar um acordo entre todos os ministros da União para o reforço da gestão do euro quando, nesse mesmo dia, à margem da famosa cimeira de Deauville, Merkel e Sarkozy vieram anunciar ao mundo um acordo que não só expunha Van Rompuy ao ridículo como ainda contrariava o que antes tinha sido decidido pelos ministros. Estava aberto o precedente.
Esta semana regressaram e não escondem ao que vêm. A chanceler para dizer que o seu partido (CDU) e os sociais-democratas (parceiros de coligação) já estariam a negociar um consenso para a composição do próximo executivo europeu. É uma total desvalorização do acto eleitoral, já que os europeus ainda nem sequer votaram, e o Tratado de Lisboa diz que a escolha do presidente da Comissão terá de levar em conta os resultados das eleições.
Nicolas Sarkozy, que já percebeu que o UMP irá perder para a Frente Nacional, também está desesperado em não deixar fugir o eleitorado de direita. Não só veio propor a "suspensão imediata" dos acordos de Schengen sobre a livre circulação de pessoas como ainda veio ressuscitar a ideia da institucionalização de um directório franco-alemão para a governar a União.
Merkel e Sarkozy estão a jogar todos os trunfos para não perder o eleitorado mais conservador e mais céptico em relação ao projecto europeu. E o resto da Europa assiste com estupefacção. E assim se vai construindo, ou melhor, desconstruindo, o projecto europeu.
PÚBLICO – Editorial de 24 MAI 14
***«»***
Já se sabia que a democracia na União Europeia é uma farsa, o que lhe confere uma enorme falta de legitimidade para decidir o que quer seja, sobre o futuro dos povos europeus. Dois países, a Alemanha e a França, porque são as duas maiores economias do continente europeu, arrogam-se no direito de querer governar, no seu exclusivo interesse, todos os povos da União. Não o irão fazer diretamente, às claras, mas através das instituições europeias, que já controlam, devido à cumplicidade do todos os governos, desde os conservadores aos sociais democratas e socialistas.

3 comentários:

Graza disse...

O que eu desejaria mesmo era que estas eleições fossem um sobressalto eleitoral, uma vez que ao povo estão vedados outros sobressaltos que a canga da lei e da ordem policial que deixamos que nos ponham, não permite. E sobressalto, era, olhar para os resultados e ficar de boca aberta, qualquer um me servia, mas levando em conta o número pequeno de deputados que elegemos para aquele parlamento, que tanta falta fazem estar lá, como não estar, não me importaria que as urnas refletissem uma abstenção de 100%.
O seu link só serve para me dar razão: não é pela institucionalização do protesto em que andamos que lá vamos. Eles não têm medo da forma como dizemos que não gostamos deles, riem-se da ameaça do “agarrem-me se não vou-me a ele”. A Europa precisa de um sobressalto maior e o sectarismo em que nos deixamos enredar vai ser o nosso fim. Estou farto da luta pelas capelinhas e da forma como ela de faz, porque me sinto a alimentar coutadas. Esta luta partidária que precisa de recorrer à ofensa, criar ódio entre nós, mesmo para com aqueles que antes lutaram ao nosso lado, com o fraco objetivo de mais um deputado, que vai ser lida como uma grande vitória, um crescimento de 100% para os que só tenham um, deixa-me com sorriso amargo. Não estamos a conseguir raciocinar neste novelo em que nos deixamos embrulhar. Vamos assim contentes até à derrota final.
Compreenda, assim, como me é difícil saber o que vou fazer hoje. Como não posso escolher muita coisa ao mesmo tempo, para que a média não me dilua e empastele a escolha e me coloque num centrão qualquer, vou por partes: Quem é que colocou no programa preto no branco a saída do Euro? Não serve dizer que há um ou dois rapazes que falam disso, porque a minha irmã Georgina também dizia muita coisa. É esta a única proposta que me leva hoje às urnas, e a razão para não me abster. Compreendo agora a razão de muita abstenção e acho que a temos negligenciado e menorizado: há afinal gente que tem o direito de achar que a forma como escolhem os seus representados não é correta e não concordam com ela, por isso, não escolhem. Vão morrer por inanição? Talvez. Tanto faz como se morre. Mas têm esse direito de escolha.
Um abraço.

Alexandre de Castro disse...

Eu compreendo o seu ponto de vista, ao nível da crítica que faz ao sistema.
Também não concordo com o voto obrigatório, como solução para acabar com a abstenção, pois temos o dever de respeitar as razões de quem se recusa a votar, concordemos ou não com elas. O que eu defendo, ao nível do processo eleitoral, e no que respeita ao apuramento dos resultados pelo método de Hondt, é elevação da abstenção ao nível da categoria dos partidos, para efeitos de mandatos. No parlamento, ficariam vazias as cadeiras do Partido da Abstenção e dos Votos Brancos. Isto obrigaria os partidos a trabalharem, de forma a não afastarem os eleitores da política. Na situação atual, se a abstenção for grande, é assunto apenas para discutir no dia seguinte. Com as cadeiras do parlamento vazias. o ferrete ficaria a marcar o escândalo, durante toda a legislatura. Apesar disto, eu vou votar, e nunca vou deixar de o fazer. Foi um direito que custou muito a conquistar. Também tenho medo que a czarina Merkel nos venha dizer que, como não queremos votar, o melhor é ela goverernar toda a Europa, sem eleições. Esta última afirmação é metafórica.
Um abraço.

Alexandre de Castro disse...

Eu compreendo o seu ponto de vista, ao nível da crítica que faz ao sistema.
Também não concordo com o voto obrigatório, como solução para acabar com a abstenção, pois temos o dever de respeitar as razões de quem se recusa a votar, concordemos ou não com elas. O que eu defendo, ao nível do processo eleitoral, e no que respeita ao apuramento dos resultados pelo método de Hondt, é elevação da abstenção ao nível da categoria dos partidos, para efeitos de mandatos. No parlamento, ficariam vazias as cadeiras do Partido da Abstenção e dos Votos Brancos. Isto obrigaria os partidos a trabalharem, de forma a não afastarem os eleitores da política. Na situação atual, se a abstenção for grande, é assunto apenas para discutir no dia seguinte. Com as cadeiras do parlamento vazias. o ferrete ficaria a marcar o escândalo, durante toda a legislatura. Apesar disto, eu vou votar, e nunca vou deixar de o fazer. Foi um direito que custou muito a conquistar. Também tenho medo que a czarina Merkel nos venha dizer que, como não queremos votar, o melhor é ela goverernar toda a Europa, sem eleições. Esta última afirmação é metafórica.
Um abraço.