Os membros do governo e os deputados da maioria,
assim como os comentadores alinhados, têm-se esforçado para apresentar como
mérito da ação governativa a grande descida das taxas de juro da dívida pública
portuguesa, no mercado secundário. A generalidade da comunicação social, ao
anunciar acriticamente essas entusiásticas declarações vitoriosas, ajuda a
consolidar na opinião pública a falsa ideia de que esta súbita recuperação da
confiança dos credores privados (bancos comerciais e fundos de investimento) da
dívida portuguesa se deve às acertadas políticas do atual governo.
Quem olha para o gráfico de um telejornal da
RTP, aqui exibido, poderá ficar convencido de que a inversão ocorrida nos
valores das taxas de juro, a partir do início de 2012, contrariando um ciclo
anterior de uma subida em flecha, reflete os primeiros resultados positivos da
política de austeridade tutelada pela troika,
e que começou a ser aplicada a Portugal, naquele ano. Subliminarmente, também
passa a ideia de que esse efeito foi único no panorama europeu.
Basta olhar para o segundo gráfico, para
verificar a simultaneidade e o paralelismo da evolução das taxas de juro das
dívidas soberanas nos países europeus com um maior endividamento público
(Grécia, Itália, Espanha e Irlanda, além de Portugal), o que me levaria a
afirmar, se este meu comentário fosse também acrítico, que as medidas
corretivas e restritivas do governo português (cortes nas pensões,
desvalorização salarial e aumento de impostos) até conseguiram o glorioso feito
de influenciar a concomitante descida das taxas de juro das dívidas dos outros
países, aqui considerados. Escapou a Passos Coelho e a Paulo Portas este
bombástico e arrasador argumento.
Tudo isto não passa de mais uma grande mentira,
usada na prossecução de uma lógica perversa de querer demonstrar que as
políticas de austeridade estão a dar frutos e a rasgar para o futuro um horizonte
de esperança. A verdade é outra. O facto determinante, que provocou o
percurso descendente das taxas de juro das dívidas soberanas dos países
europeus mais endividados, deve encontrar-se nas declarações de Mario Draghi, presidente do Banco Centra
Europeu (BCE), nos finais de 2011, quando disse que “faria tudo para salvar o
euro”. E, na realidade, fez tudo, e só é de lamentar que não o tivesse feito
antes, logo que se declarou a crise das dívidas soberanas, evitando-se assim a
onda especulativa que atirou três países para as garras da troika.
O presidente do BCE, ao intervir no mercado
secundário da dívida - a contragosto dos interesses da Alemanha e ultrapassando
as suas próprias competências - iniciando a compra de títulos de dívida pública
dos países europeus que estavam sob a mira dos especuladores, o efeito
resultante só poderia ser um: a baixa acentuada das taxas de juro. A partir
daí, os especuladores ficaram sem meios para provocar artificialmente a subida
das taxas de juro, subida essa que iria aumentar-lhes os ganhos em mais-valias.
Como é que se pode acreditar na demoníaca
parelha, Passos Coelho e Paulo Portas, que, mentindo descaradamente aos
portugueses, até já reivindica, sem qualquer espécie de escrúpulos, “méritos ”
alheios?!
3 comentários:
Uns autênticos crápulas....querem enganar mais uma vez o Zé, com mentiras a todo o momento....nem comunicar sabem....mas assim é que é bom para irem novamente para o poleiro..,. Dá-me nojo ouvir esta gentinha.....
No espelho das águas
tudo é mais claro
Bela metáfora, Mar Arável.
Enviar um comentário