FEDERAÇÃO NACIONAL DOS MÉDICOS
Um Projeto do Ministério da Saúde que visa amordaçar
os profissionais de saúde!
Foi objeto de divulgação pública um projeto
ministerial que visa, aparentemente, estabelecer “códigos de ética” dos
serviços e organismos do Ministério da Saúde e dos estabelecimentos que
integram o Serviço Nacional de Saúde.
Face à gravidade de diversos aspetos contidos no
seu articulado, a FNAM entende necessário transmitir a seguinte posição:
1- O Ministério da Saúde tomou a iniciativa de
elaborar um projeto cujo único objetivo é criar um enquadramento legal
específico para os profissionais de saúde, impedindo-os de produzirem
declarações à comunicação social e de denunciarem as situações existentes nos
serviços onde trabalham que possam constituir ameaças à vida dos doentes e à segurança
da prestação dos cuidados de saúde.
2- O texto da introdução deste despacho até
reconhece a óbvia existência de legislação enquadradora desta matéria, mas
omite que existem há largas décadas diplomas que regulamentam os códigos éticos
e deontológicos, como é o conhecido caso dos médicos.
3- Uma interrogação que se coloca desde logo, é
a razão destas preocupações sobre códigos de ética só se colocarem a nível do
setor da saúde quando toda a argumentação do texto da introdução do despacho se
dirige aos serviços públicos em geral.
4- No anexo II deste despacho é referido
expressamente que se dirige à ética profissional, o que assume uma gravidade
acrescida porque todos sabemos que as questões da ética profissional estão há
muito legisladas e inseridas nas competências legais das ordens profissionais.
Por outro lado, torna-se claro pela leitura das
disposições contidas nesse projeto que poderiam existir códigos de ética por
serviço e por organismo público de saúde, ou seja, as condutas éticas iam
variando consoante o serviço e o local do país.
5- O projeto enuncia objetivos que são meras
banalidades e que só confirmam que o seu objetivo exclusivo é amordaçar os
profissionais de saúde para que não efetuem denúncias sobre as consequências desumanas
que a atual política ministerial e governamental de
austeridade extrema e de cortes cegos e
arbitrários está a produzir nos serviços e no acesso dos cidadãos aos cuidados
de saúde.
Aliás, são estabelecidas essas brutais
restrições num ponto nº 5 da página 14 desse despacho, chegando ao cúmulo de
estabelecer que aquilo a que chamam de “dever de confidencialidade” se deve
manter mesmo após a cessação de funções e sendo efetuadas ameaças de sanções a
nível de responsabilização disciplinar, civil e/ou criminal.
6- Um dos aspetos que é abordado no projeto diz
respeito a ofertas que poderão ser efetuadas a profissionais de saúde, tentando
apresentá-lo como moralizador de supostas práticas, quando aquilo que está subjacente
à inclusão deste tema é tentar dissimular o já referido objetivo de amordaçar
os profissionais de saúde.
A forma apressada e pouco cuidada como foi
elaborada essa redação das ofertas atinge aspetos tão ridículos como são os
casos de numa linha afirmar que não podem ser aceites “dádivas ou
gratificações” para na linha seguinte referir que estas devem ser entregues na
Secretaria-Geral do Ministério da Saúde.
7- O aparecimento deste novo projeto de despacho
vem confirmar que o Ministério da Saúde decidiu já há algum tempo enveredar por
uma atitude sistemática de boicotar a
negociação sindical e a audição legal dos parceiros sociais.
Matérias importantes que impunham esses
procedimentos legais estão a ser remetidas para portarias e para despachos, de
modo a evitar o cumprimento dos preceitos constitucionais da negociação
coletiva.
8- A criação destas disposições que pretendem
impor uma mordaça aos profissionais de saúde acaba por constituir uma confissão
indireta do estado de contínua degradação a que a política deste ministério
está a conduzir os serviços públicos de saúde.
Não sendo já possível o Ministro da Saúde
continuar a esconder as consequências da sua política destrutiva do SNS e do
direito constitucional à saúde, não hesitou em tentar aplicar um instrumento próprio
de países totalitários.
A FNAM considera que se tornam hoje evidentes os
desastrosos resultados de uma política
ministerial e governamental orientada para a destruição do SNS e que o Ministro
da Saúde já não consegue manter a máscara que durante largo tempo iludiu alguns
sectores da opinião
pública.
Este ministro veio ressuscitar o delito de
opinião e a criminalização da livre expressão, de tão tristes memórias.
A FNAM afirma, de forma clara, que honrará os
seus compromissos reivindicativos com os
médicos e de defesa do SNS e que a gravidade da situação atual determinará uma
enérgica intervenção sindical.
Porto, 21/5/2014
A
Comissão Executiva da FNAM