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sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Notas do meu rodapé: Soares dos Santos atribui baixa produtividade do país aos salários baixos


O presidente do grupo Jerónimo Martins
atribuiu hoje a baixa produtividade do país
aos baixos salários pagos aos trabalhadores.
“Fala-se que o país não tem produtividade,
que se pagam salários elevados. Tretas.
Paga-se mal e não se pode exigir a uma
pessoa que ganha pouco mais que o salário
mínimo que vá trabalhar com gosto. Não se
lhe pode exigir sacrifícios”, defendeu Soares
dos Santos, durante um almoço da Câmara
do Comércio e Indústria Lusa-Alemã. Segundo
uma gravação da Antena 1, o empresário
defendeu que “os portugueses estão
constantemente a ser metralhados com
mentiras sobre a situação económica do país”.
Soares dos Santos criticou ainda a maior
“interferência do Estado na economia”.
Público
.
Pela primeira vez, ouvimos da boca de um empresário, e um dos mais importantes do país, uma declaração desassombrada e corajosa a denunciar o grande equívoco sobre as causas da baixa produtividade da economia portuguesa.
Tal como por várias vezes temos referido no Alpendre da Lua, uma das causas da baixa produtividade da economia portuguesa reside no baixo nível salarial, cronicamente praticado. Para mitigar as suas insuficiências e competências, os empresários portugueses procuraram sempre ganhar competitividade a esse nível, descurando os outros factores que a influenciam, tal como a qualificação profissional, através da formação contínua, a organização e a gestão do trabalho, a organização e gestão empresarial, a inovação tecnológica, a prospecção de mercados numa base científica e a concepção e aplicação de políticas "agressivas" na promoção dos produtos e dos serviços a colocar no mercado. Pode afirmar-se que, historicamente, os empresários portugueses foram sempre "preguiçosos", uma vez que a sua sobrevivência e a sua prosperidade foram alcançadas à custa dos salários baixos e dos crónicos apoios do Estado, para não falar do exacerbado proteccionismo durante o Estado Novo, que os remeteu para uma condição acomodatícia e paralisante. Era a melhor maneira de ganhar dinheiro sem assumir riscos calculados.
Saudamos, pois, a declaração do empresário Soares dos Santos, que equacionou um problema estrutural da economia portuguesa na sua verdadeira dimensão. Duvidamos, contudo, que ela contagie os seus empedernidos pares.

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