As condições leoninas, que acompanham os empréstimos (com juros elevados) da União Europeia (UE) e do Fundo Monetário Internacional a Portugal, Grécia e Irlanda, contrariam toda a racionalidade económica, já que, como sustentam os economistas nobelizados, Joseph Stiglitz e Amartya Sen, além de outros, não comprometidos com o sistema do grande capital, nenhuma economia pode crescer numa situação de aperto orçamental. Em períodos de crise económica, o Estado tem de intervir, directa e indirectamente, na economia, já que os agentes privados, independentemente da sua autonomia, têm de se enquadrar numa mesma estratégia de recuperação geral, previamente assumida, depois de um estudo muito rigoroso do mercado global. Ora, em Portugal, nem o governo de José Sócrates nem a troika se preocuparam com esse estudo. A afirmação muito badalada que, depois de corrigir o défice orçamental, Portugal reconquistaria a confiança do mercado de capitais, e poderia, a partir daí, recuperar a economia, carece de fundamentação científica e não tem, a ancorá-la, nenhum estudo. Genericamente, subentende-se que as exportações subiriam através do aumento da competitividade proporcionada pela diminuição dos salários dos trabalhadores (não os dos gestores nem o dos funcionários superiores do Estado). Esta postura comodista e empobrecedora parte do princípio da continuidade de um aparelho produtivo de trabalho intensivo e de pouco valor acrescentado, como acontece actualmente.
Num estudo recente para o Banco de Portugal, o insuspeito economista e ex-ministro do governo de António Guterres, Augusto Mateus, depois de concluir que vai ser muito difícil para Portugal regressar ao crescimento económico, afirma que "o acento tónico da nossa competitividade está mais em produzir mais valor do nosso produto e não produzir a custo mais baixo". E aponta vários caminhos. Um deles, e obrigatoriamente, é o da diversificação das exportações, um outro é o da valorização dos jovens quadros, saídos das universidades, e que, actualmente, são os únicos trabalhadores portugueses que são competitivos, já que são altamente qualificados e são baratos em relação aos seus congéneres europeus. Disse Augusto Mateus numa entrevista ao PÚBLICO: "Em Portugal há recursos altamente qualificados, temos engenheiros, médicos, gestores, físicos, químicos, gente muito escolarizada, muito competente, pois foi formada em universidades modernas e capazes, mas com salários baixos".
Ora, acontece, que nem o PSD nem o PS escreveram, nos seus programas, uma linha, ou o que quer que fosse sobre este domínio (janela de oportunidade). Entregaram-se ao fundamentalismo monetarista do FMI, que não está a resultar na Grécia nem na Irlanda, e que, em Portugal, também não vai resultar, a não ser que queiram reduzir o país à dimensão económica do Afeganistão.
Pela sua importância, voltaremos a referirmo-nos a este estudo de Augusto Mateus.
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