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No Programa de Estabilidade e Crescimento, o governo inscreveu, como meio de reduzir a dívida pública, a privatização de algumas importantes empresas do Sector Empresarial do Estado, entre as quais os CTT. Além de se revelar um negócio ruinoso, uma vez que se trata de uma empresa altamente lucrativa, a medida ignora o seu grande contributo para o desenvolvimento da coesão territorial, uma vez que esta empresa pública comporta, na prestação de alguns dos seus serviços, muitas externalidades (efeitos não contabilizados pelo mercado) positivas. Além de se pretender alienar uma empresa emblemática, que já pertence ao nosso património histórico e à nossa memória colectiva, o governo, ao privatizá-la, vai permitir a constituição de mais um perigoso e indesejável monopólio. Nas mãos dos privados, e com o argumento da rentabilidade e da racionalidade do mercado, milhares de portugueses do interior do país, a viver em aldeias recônditas e isoladas, irão ficar excluídos dos serviços do correio, mesmo que, inicialmente, sejam feitas inúmeras e fingidas juras de que tal não irá acontecer. Sem concorrência, e com governos (quer os de sangue rosée, quer os de cor laranja) que não defendem o interesse público (ver o caso do Terminal de Alcântara, da responsabilidade de um governo socialista, e o caso do ruinoso contracto da concessão à Lusaponte de todas as travessias do Tejo, entre Vila Franca de Xira e Belém, da responsabilidade de um governo do PSD), o gigantesco monopólio, que se irá formar, rapidamente apresentará fabulosos lucros (uma vantagem da gestão privada!), à custa do encerramento dos serviços menos rentáveis e do imprescindível aumento dos preços dos serviços prestados (até a saliva para colar os selos passa a ser paga!).
José Sócrates, que tanto gosta de fazer comparações com a Europa, deveria analisar o que está a acontecer na Grã-Bretanha, onde o seu irmão Gordon Brown privatizou os sectores mais rentáveis do Royal Mail, estando a levantar uma onda enorme de protestos das empresas e dos cidadãos, já que se assiste a uma grande deterioração da qualidade dos serviços prestados. Repete-se com o Royal Mail, o que aconteceu com a privatização dos serviços ferroviários, por iniciativa do seu antecessor, Tony Blair, e que redundou num grande fiasco, em termos de qualidade e eficiência.
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