O PCP acusou hoje o Governo de ir mais longe que
a ditadura fascista no que à privatização dos CTT diz respeito, com os
sociais-democratas a assinalarem que os CTT vão ser vendidos com uma
valorização de 100% do seu capital.
"No que diz respeito aos CTT e ao serviço
público postal, este Governo atreve-se a ir mais longe do que foi a própria
ditadura fascista. Pela primeira vez em cinco séculos de história, os correios
são entregues aos interesses privados dos grupos económicos", acusou o
deputado comunista Bruno Dias em intervenção no parlamento.
O parlamentar criticou na sua intervenção o
"obsceno espetáculo de enriquecimento de alguns à custa do
empobrecimento de quase todos", num "processo verdadeiramente
escandaloso de submissão total do interesse público, em que tudo vale para
favorecer este vergonhoso negócio".
Na resposta, o deputado do PSD Luís Menezes,
reconhecendo o "mar ideológico" que separa as posições dos
sociais-democratas e dos comunistas, disse que o Estado receberá com esta venda
"quase aquilo que receberia por 12 anos de dividendos futuros",
ficando ainda com 30% do capital dos CTT.
O parlamentar "laranja", que registou
a coerência do PCP sobre esta matéria, acusou o PS de "falta de
vergonha" porque em todos os Programas de Estabilidade e Crescimento (PEC)
dos socialistas estava inscrita "preto no branco a privatização dos CTT".
A venda das ações dos CTT - Correios de Portugal
permitiu um encaixe de 579 milhões de euros, disse hoje o presidente executivo
da empresa, Francisco Lacerda.
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Nesta notícia, sobre a privatização dos CTT, valioso
património material e imaterial do país, ao serviço do bem público, assinalam-se bem as
clivagens políticas e ideológicas existentes entre os três maiores partidos, e
que traduzem as próprias clivagens da sociedade portuguesa.
Enquanto o PCP se opõe com determinação à
privatização, pela simples razão de que a gestão privada de um bem público,
ficando sujeita à lei do lucro, acaba por prejudicar o sentido social da
prestação de serviços desse mesmo bem, e que, no caso vertente, se traduz no
encerramento de centenas de postos de atendimento integrais nas zonas do
território nacional, com menor densidade demográfica, prejudicando assim as
populações mais isoladas, normalmente de escassos rendimentos, o PSD, pelo
contrário, remete a sua parca argumentação para a narrativa da contabilidade de
mercearia, vangloriando-se de que, com o encaixe da privatização, o Estado
arrecadou, de uma assentada, doze anos de dividendos futuros. Esqueceu-se o
deputado falante de que esse encaixe é irrepetível e que Portugal não acaba
daqui por doze anos, sendo o ónus, nesta perspetiva financeira, atirado, mais
uma vez, para as gerações futuras.
Já o Partido Socialista tem o que merece, e aí,
o deputado laranja até tem razão, já que o Partido Socialista, que perdeu as
suas matrizes ideológicas fundadoras, é sempre aquele partido que é e não é,
que diz e não diz, que faz e não faz, debatendo-se eternamente com o seu shakespeariano
conflito íntimo, do Ser ou não Ser, o
que está a tolher-lhe a capacidade de iniciativa para se assumir como um
verdadeiro partido de oposição.
AC
1 comentário:
Disseste tudo
Na verdade estão a desmantelar o país
a mim já me doi a alma
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