Caro Bruno:
Agora não vou falar-lhe do Benfica, para não o
atormentar mais. Já basta o que basta.
Hoje, quero felicitá-lo por ter escolhido, para
um dos momentos do seu lazer, o maravilhoso parque da Quinta
das Conchas e da Quinta dos Lilases, ao Lumiar. É um local paradisíaco. Ali, na
parte mais elevada, revestida por uma abundante vegetação selvagem, ainda se
podem ver algumas pequenas aves que escolheram aquele espaço para nidificação,
o que é um autêntico milagre numa cidade, onde impera a ditadura do cimento e
do automóvel. Lembro-me de ter feito algumas reportagens para o nosso saudoso
jornal, na altura em que aquele espaço verde esteve ameaçado pela gula dos
patos bravos, que andaram a construir, a norte, a urbanização da Alta de
Lisboa. Ainda conseguiram destruir o muro da cerca original, para derrubar
algumas árvores centenárias e proceder ao esbulho de uma franja de terreno,
pertencente ao parque, um crime que ficou impune.
Esses patos bravos e esses promotores
imobiliários também tentaram abrir uma rua, para fazer a ligação directa da
urbanização à avenida das Linhas de Torres, intento que foi travado, devido à
corajosa luta da comissão de moradores do Lumiar. Evitou-se assim o
esquartejamento das duas quintas e, consequentemente, a destruição daquele
espaço verde, pois, a partir dali, ficaria aberto o caminho para as árvores
serem substituídas pelo tijolo e pelo cimento.
Estes patos bravos são assim. Não podem ver na
cidade uma nesga de terreno, que não pensem logo em construir condomínios. Há
quem diga até que os patos bravos têm potentes orgasmos quando olham para um
arranha-céus, coisa que não lhes acontece quando fodem com as suas mulheres, o
que os leva, em desespero de causa, a procurarem as putas nos bares de alterne
da Duque de Loulé e da Luciano Cordeiro, o único sítio onde podem fazer crer
que a sua potência sexual é equivalente à da potência dos motores dos seus
automóveis topo de gama, invariavelmente da marca Mercedes e Audi, e que ficam
caoticamente estacionados nos passeios daquelas artérias, numa manifestação
pirosa de ostentação.
Só naqueles espaços obscuros da noite de Lisboa
é que conseguem satisfazer as suas bizarras fantasias, e não só as de âmbito
sexual, constando até, por aí, que, a mais bizarra, é aquela em que um famoso
empreiteiro exige das meninas, a troco de uma nota de cem euros por cabeça, que
o considerem presidente do glorioso,
encenação esta que apenas ocorre, já perto da madrugada, quando ele já está
encharcado em whisky.
Um abraço
Alexandre
de Castro
Lisboa,
Setembro de 2011
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