O economista João Ferreira do Amaral antecipa
que se atingirá um limite do esforço que pode ser exigido aos portugueses,
criando um conflito entre a sustentabilidade social e as exigências de
consolidação orçamental.
“Vai-se chegar à conclusão que não será possível
pedir mais sacrifícios aos portugueses”, afirmou Ferreira do Amaral, durante a
conferência de apresentação do relatório do Observatório sobre Crises e
Alternativas, na Fundação Calouste Gulbenkian. “Como ainda estamos longe de
atingir os objectivos de consolidação orçamental, parece-me existir um
conflito” entre o equilíbrio social e orçamental.
“Enquanto tivermos uma dívida acima dos limites
estaremos sob protectorado. A nossa soberania estará limitada durante décadas.
É dizer que o País não terá sustentabilidade política durante anos”,
acrescentou. Portugal está numa situação de insustentabilidade “a vários
níveis” que “não tem muitos paralelos na nossa História”.
O economista refere que, perante essa
insustentabilidade, “há sempre situações de ruptura”. “Uma economia distorcida,
com uma moeda que continua a valorizar ao longo do tempo e uma dívida externa
elevada não pode funcionar”, sublinhou.
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Os mesmos argumentos, que o economista Ferreira
do Amaral esgrimiu, para fundamentar a sua oposição à adoção da moeda única,
continuam válidos no momento em que cada vez mais se coloca a questão de
Portugal regressar a uma moeda nacional, a fim de recuperar o seu poder
monetário e cambial.
Já dissemos aqui, várias vezes, e repetimos. Ao
aderir ao euro, Portugal fez a figura daquela criança que vestiu o casaco do
pai. Ficava-lhe demasiado grande e sobravam mangas. Um país, como Portugal, com
uma produtividade muito inferior à dos países que se tornaram os seus maiores
parceiros comerciais, não poderia ser beneficiado no saldo das trocas de bens e
serviços. Esse saldo só poderia ter-lhe sido favorável se tivesse uma moeda própria, com
um valor ajustado à sua produtividade.
Este postulado é de uma evidência cristalina, em
ciência económica, e eu só me admiro como muitas sumidades na matéria andam por
aí a desmenti-lo. Só poderá ser por interesse pessoal ou de classe.
AC