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quinta-feira, 20 de junho de 2013

Poema: Segunda folha DOS CAMINHOS DOS BOSQUES - POEMA VI - por maria azenha


Segunda folha
DOS CAMINHOS DOS BOSQUES

POEMA VI

Ele voltou a cabeça.
não revelou os gestos que talvez os olhos
fossem cegos
iluminou-se entre pequenas faúlhas de ciprestes
interpelou as árvores dos bosques com poemas de acenos
ao crepúsculo,

estávamos às escuras.
disse: isto é o mundo

temos de o percorrer com vogais nas mãos
e os pés unidos em forma de borboleta
colocar asas na boca porque as imagens não
podem voar para trás respirar nos frutos
de cara voltada para a luz

quando fechei o livro, ele tornou a
voltar a cabeça.
sabia que dançar é a história do Universo
vi-o de costas. era belo
e cego.

maria azenha
in " de amor ardem os bosques "

Nota: Depois de ler este poema, lembrei-me subitamente do romance de Saramago, Ensaio sobre a Cegueira, uma história de assombro que nos faz mergulhar num mundo de uma epidémica cegueira, onde os caminhos são percorridos "com vogais nas mãos" e "asas na boca". Não sei se Maria Azenha se inspirou no livro de Saramago. O que sei, é que ela, e recorrendo ao seu inesgotável imaginário metafórico, conseguiu formular uma exemplar definição poética sobre a cegueira, não só aquela cegueira formada por aquela mácula esbranquiçada que tapa a íris, mas também aquela cegueira que se respira nos "frutos de cara voltada para a luz".
AC

A “poeta” maria azenha colabora neste blogue, publicando-se um poema de sua autoria, às Quintas-feiras. 

1 comentário:

Sónia M. disse...

E "isto é o mundo", "belo e cego".
Belíssimo este poema de Maria Azenha.

Beijo

Sónia