Segunda
folha
DOS
CAMINHOS DOS BOSQUES
POEMA VI
Ele
voltou a cabeça.
não
revelou os gestos que talvez os olhos
fossem
cegos
iluminou-se
entre pequenas faúlhas de ciprestes
interpelou
as árvores dos bosques com poemas de acenos
ao
crepúsculo,
estávamos
às escuras.
disse:
isto é o mundo
temos
de o percorrer com vogais nas mãos
e
os pés unidos em forma de borboleta
colocar
asas na boca porque as imagens não
podem
voar para trás respirar nos frutos
de
cara voltada para a luz
quando
fechei o livro, ele tornou a
voltar
a cabeça.
sabia
que dançar é a história do Universo
vi-o
de costas. era belo
e
cego.
maria azenha
in
" de amor ardem os bosques "
Nota: Depois de ler este poema, lembrei-me subitamente do romance de Saramago, Ensaio sobre a Cegueira, uma história de assombro que nos faz mergulhar num mundo de uma epidémica cegueira, onde os caminhos são percorridos "com vogais nas mãos" e "asas na boca". Não sei se Maria Azenha se inspirou no livro de Saramago. O que sei, é que ela, e recorrendo ao seu inesgotável imaginário metafórico, conseguiu formular uma exemplar definição poética sobre a cegueira, não só aquela cegueira formada por aquela mácula esbranquiçada que tapa a íris, mas também aquela cegueira que se respira nos "frutos de cara voltada para a luz".
AC
A “poeta” maria azenha colabora
neste blogue, publicando-se um poema de sua autoria, às Quintas-feiras.
1 comentário:
E "isto é o mundo", "belo e cego".
Belíssimo este poema de Maria Azenha.
Beijo
Sónia
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