Pintura de Victor Panchenko Imagem selecionada pela autora |
noite em visita
(poemas destes da solidão da noite
chamam incessantemente por todos)
ela de cabelos brancos
de corpo insurreto
sentada na cama do quarto
não tem ninguém a seu lado
chama chama
chama e volta a chamar
o som do mar bate na voz das paredes
em seus delírios e clarões assustados
é nossa senhora da água que os guia
em tropelias verbais
e escreve no ar com a ponta dos dedos
no seu teatro desesperado de amor
contra dunas sebes janelas de vogais
no grande livro das nuvens
e há estrondos ventos tempestades
lençóis acesos encostados ao enigma
sombras e clamores de sons iluminados
em retângulos incendiados de futuros
lá dentro o marido vocifera bêbado
com a lua na cabeça e a pulseira na eternidade
em sangue e carne e sol queimado nos pulsos
ela com algodão nos ouvidos
em jogos de luz no escuro
procura no seu dentro invisível um fio
com a boca cheia de silêncio e comprimidos
(poemas destes da solidão da noite
chamam incessantemente por todos)
ela de cabelos brancos
de corpo insurreto
sentada na cama do quarto
não tem ninguém a seu lado
chama chama
chama e volta a chamar
o som do mar bate na voz das paredes
em seus delírios e clarões assustados
é nossa senhora da água que os guia
em tropelias verbais
e escreve no ar com a ponta dos dedos
no seu teatro desesperado de amor
contra dunas sebes janelas de vogais
no grande livro das nuvens
e há estrondos ventos tempestades
lençóis acesos encostados ao enigma
sombras e clamores de sons iluminados
em retângulos incendiados de futuros
lá dentro o marido vocifera bêbado
com a lua na cabeça e a pulseira na eternidade
em sangue e carne e sol queimado nos pulsos
ela com algodão nos ouvidos
em jogos de luz no escuro
procura no seu dentro invisível um fio
com a boca cheia de silêncio e comprimidos
Nota: Uma excelente descrição poética da
degradação/desagregação de uma relação conjugal, devorada pela velhice, pela solidão e pelos "estrondos ventos tempestades". Ao
ler-se o poema, sente-se toda aquela assustadora fragmentação da vida e dos
sentimentos, a saltar aos bocados, entre " sombras e clamores de sons iluminados".
Trata-se de um poema, que se transforma em pesadelo, porque ainda não sabemos se o único destino, desenhado "em retângulos incendiados de futuro", será, na realidade, o procurar o "invisível fio com a boca cheia de silêncio e comprimidos".
Por cada novo poema de maria azenha, procuro sempre uma classificação para as suas metáforas "delirantes", do género, "lençóis acesos encostados ao enigma", metáfora esta, aqui, bem entrosada na corrente discursiva do poema. Atrevo-me a dizer que maria azenha é "subversiva" poeticamente. É que, historicamente, a inovação na Arte, seja ela a Poesia, o Romance, a Pintura, a Dança ou a Escultura, é sempre uma subversão contra o cânone estabelecido. Na Arte, são sempre as vanguardas que fazem as revoluções. É o caso...
A "poeta" Maria Azenha colabora neste blogue, publicando-se um poema de sua autoria, às quintas-feiras.
Por cada novo poema de maria azenha, procuro sempre uma classificação para as suas metáforas "delirantes", do género, "lençóis acesos encostados ao enigma", metáfora esta, aqui, bem entrosada na corrente discursiva do poema. Atrevo-me a dizer que maria azenha é "subversiva" poeticamente. É que, historicamente, a inovação na Arte, seja ela a Poesia, o Romance, a Pintura, a Dança ou a Escultura, é sempre uma subversão contra o cânone estabelecido. Na Arte, são sempre as vanguardas que fazem as revoluções. É o caso...
A "poeta" Maria Azenha colabora neste blogue, publicando-se um poema de sua autoria, às quintas-feiras.
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