Nem o Júlio Verne sabia que poderia haver um
polvo com esta dimensão. Só em Itália, no tempo de Giulio Andreotti
(democrata-cristão) e de Bettino Craxi (socialista). É curioso recordar que foi
precisamente a corrupção dos políticos que liquidou o antigo sistema político-partidário italiano, embora o que lhe sucedeu não seja melhor. Andreotti, nos inícios da
década de 90, do século passado, foi julgado por ligações à Mafia e por criar
esquemas de financiamentos ilegais a partidos políticos. Em 2002, foi condenado
a 24 anos de prisão, por cumplicidade no assassinato de um jornalista, pena que
não cumpriu, devido à imunidade que o estatuto de senador vitalício lhe
conferia. Bettino Craxi, devido à corrupção, teve de fugir de Itália,
refugiando-se na Tunísia, onde veio a morrer. Também, curiosamente, quando
Craxi morreu, Mário Soares elogiou-o muito, o que me leva a acreditar que Mário
Soares tem uma vocação nata para elogiar mortos e mortos-vivos. Em resumo: A
corrupção é a norma do Estado de Direito que nos venderam.
Os casos de corrupção, que estão a saltar para a
opinião pública, através da Justiça, desferiram um grande coice nas nossas
consciências de cidadãos, o que nos leva a duvidar da viabilidade do regime
democrático, tal como o conhecemos desde há quatro décadas. O país ficou
agarrado às cadeiras, de espanto. Espero que esse espanto se transforme em
indignação e, depois, em revolta. Não podemos pactuar com esta escandalosa e
pantanosa situação. A Justiça tem de atuar com toda a dureza que a lei permite,
e eu espero que ela não se partidarize, o que seria um outro grande escândalo.
1 comentário:
Portugal, Espanha e Itália têm muitas afinidades - políticas, sociais e históricas. São três países de expressão latina, serviram de suporte à tridentina Contra-Reforma, foram dominados por regimes fascistas e integraram a UE. Agora, descobriu-se uma outra dramática afinidade, a corrupção em grande escala do aparelho de Estado.
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