Sugestão de João Fráguas e Joaquim Pereira da Silva
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As políticas austeritárias começaram a entrar em declínio e encontram-se completamente desacreditadas. Já são muito poucos aqueles que as defendem. E isto por duas razões: por um lado, essas políticas têm vindo a revelar-se contraproducentes, pois, nos países que as adotaram, os objetivos propostos não estão a ser alcançados, verificando-se o falhanço de todas as previsões. Na Irlanda, na Grécia e em Portugal, o que se constata é que a cura é muito bem pior do que a doença, pois as respetivas economias sucumbiram ao peso das medidas de austeridade sobre o consumo privado e a despesa do Estado. Por outro lado, a nível académico, os economistas neoliberais deixaram de se ouvir, perante a evidência dos erros metodológicos e de análise dos estudos de investigação que sustentavam a tese de que uma dívida excessiva seria um verdadeiro travão para o crescimento económico, tese esta que é desmentida, por exemplo, pelo caso do elevadíssimo endividamento da Alemanha, no pós-guerra, que lhe serviu, juntamente com o da acumulação de défices orçamentais, para iniciar a recuperação da sua economia.
Restam os políticos ortodoxos e empedernidos, que não querem dar-se por vencidos e pretendem esgotar todos os meios, mesmo os mais absurdos, na esperança de que a situação se inverta. Uma esperança que será inglória. Entretanto, os povos vão continuar a sofrer todas as nefastas consequências da aplicação cega destas políticas, com algumas das suas respetivas medidas a atingirem as raias do absurdo. É o caso, entre nós, da medida prevista para aplicar aos funcionários públicos do quadro de mobilidade especial, que, ao fim de 18 meses de inatividade, deixarão de receber qualquer remuneração, por parte do Estado, embora continuem com o vínculo laboral inalterado. É uma situação verdadeiramente kafkeana, que não abona, tal é a desorientação e o desnorte dos governantes, a favor da sanidade mental dos seus autores e promotores.
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